quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A importância de deixar ir...

Sou uma pessoa sensível, sempre fui... Quando ando na rua, cuido para não pisar nas formigas, é uma espécie de TOC, ou algo assim. Fico horas admirando o ballet das libélulas sobrevoando a água nos dias quentes de verão. Compadeço-me com os animais abandonados, choro junto deles por tamanha injustiça. Sou amante das tardes mornas de primavera, em que aquele vento morno toca as roupas nos varais e as nuvens brancas ornamentam um belo céu azul. Durante muito tempo na minha vida esperei que alguém percebesse essas pequenas coisas, estes detalhes, em mim e me amasse exatamente por conta deles... Mas, em geral, penso que nos dias de hoje isto está cada vez mais difícil. Tive inúmeras ilusões relacionadas ao amor, inúmeras mesmo. Mas fui aprendendo com o passar do tempo. 
Há uma promessa que permeia as relações desde o início dos tempos: de que existe alguém, em algum lugar do mundo, que espera por uma pessoa exatamente como você. Sim. Um alguém que irá complementar a sua vida a tornar todas as tuas lutas mais fáceis de serem enfrentadas. Alma gêmea, seja lá o que for, buscamos por esta pessoa desde os nossos primeiros passos e jamais deixamos de buscar. 
Então, nesta saga que se inicia não sabemos bem quando, cometemos muitos enganos e, a cada nova paixão, a cada novo amor, guardamos, bem lá no fundo, mesmo que não admitamos nem para nós mesmos, a esperança de que esta seja aquela pessoa. A cada beijo, a cada frase dita ou não dita, a cada momento juntos, vamos esperando que aquela pessoa simplesmente fique. É... Que ela permaneça conosco até o fim dos nossos dias. Aquela história do "felizes para sempre", sabe?! Envelhecer juntos e sentar na varanda para cuidar dos netos e admirar o por do sol pela milésima vez. Cuidar um do outro mesmo quando estamos com raiva por conta de algum erro bobo cometido. Ressignificar a vida um do outro a cada dificuldade, enfrentar os desafios mundanos juntos porque um fortalece o outro na caminhada da vida. Muitas e muitas pessoas já sentiram isso, já escreveram sobre isso e cada um tem sua própria concepção sobre este assunto.
A questão que trago hoje é que, diante de tantos enganos e tantas e tantas pessoas que foram embora - algumas para nunca mais voltar - precisamos analisar essa nossa trajetória... Embora guardemos expectativas com relação àqueles que amamos - e sempre guardamos, isso é fato, precisamos ter a consciência plena da finitude de todas as coisas... Sim, isso mesmo, porque, não importa o quanto é grande o amor que sentimos e não importa todas as expectativas que temos, pode não ser eterno, pode não ser o "felizes para sempre" que tanto esperamos. Por isso que é tão importante vivermos o momento. Os momentos. Tristes ou felizes, serão as lembranças destes tantos instantes ao lado daqueles que um dia amamos que permanecerão conosco tal e qual uma tatuagem. Impossível desfazer-se delas. De repente, um cheiro, uma rua, uma música, trazem tudo à tona novamente e o que temos de ter certeza é de que valeu a pena. Mesmo que não tenha dado certo. 
Começamos um relacionamento de um jeito e o terminamos de outro. Não somos os mesmos quando acaba, porque a pessoa que vai deixa muito dela dentro de nós, assim como nós também deixamos muito de nós nelas. Pessoas completamente diferentes, reiniciamos a procura... E aquela pessoa que um dia nos foi tão cara acaba, muitas vezes, se tornando um completo estranho. Essa que é a parte triste de todas as histórias de amor. Cruzamos com aquele que um dia acreditamos ser nada mais nada menos do que a Nossa Metade nas ruas e temos de baixar a cabeça porque não restou nada, apenas as lembranças que habitam algum lugar distante de nosso ser. Desconstruir a imagem que tínhamos daquela pessoa dói por demais e pode doer sempre que a encontrarmos, mas, faz parte da aprendizagem. 
Precisamos perceber que, quando não dá certo, quando aquela pessoa não é a nossa pré destinada desde a maternidade - e um relacionamento quando dá errado dá muitos sinais disto - temos de encontrar meios de desapegar. Sei que não é fácil, pelo contrário, é um processo que provoca uma dor imensa, lancinante... Mas temos de deixar essa pessoa ir... 
Despedidas são muito tristes, sabemos disto. O vazio e a saudade que ficam são sufocantes, por muitos momentos pensamos que a vida deixa de ter sentido quando aquela pessoa não está mais por perto. Mas, se não era A pessoa, aquele por quem esperamos e buscamos desde sempre, por que insistir em um engano? Rotina? Comodismo? Medo da solidão? Não podemos condenar o outro a viver preso em um relacionamento fracassado, não temos este direito... E é aí que está! O deixar ir é algo muito importante para que a busca - de ambos - prossiga... Pode até ser mito, pode até ser que jamais encontremos aquela pessoa para qual fomos destinados, mas devemos (nos) dar a liberdade de tentar de novo... e de novo... e quantas vezes forem necessárias... porque ficar numa relação que não deu certo por orgulho ou seja lá pelo que for não é justo... nem com você e tampouco com o outro... Então, deixe ir... Mesmo que doa, mesmo que você fique perdida... Mesmo que o vazio fique insuportável... Porque é a única coisa que você pode fazer para salvar-se e deixar que o outro se salve também... Pensem nisso... 

"Eu não me perdi,
E mesmo assim você me abandonou...
Você quis partir, e agora estou sozinho
Mas vou me acostumar..
com o silêncio em casa, com um prato só na mesa.
Eu não me perdi,
O Sândalo perfuma o machado que-o feriu
Adeus, adeus ,adeus meu grande amor.
E tanto faz.. de tudo o que ficou,
Guardo um retrato teu,
e a saudade mais bonita.
Eu não me perdi,
e mesmo assim ninguém me perdoou..
Pobre coração - quando o teu estava comigo era tão bom.
Não sei por quê acontece assim e é sem querer
O que não era pra ser: Vou fugir dessa dor.
Meu amor
se quiseres voltar - volta não
Porque me quebraste em mil pedaços..."

(Legião Urbana, "Mil Pedaços", cd A Tempestade)