segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sim! Precisamos do feminismo!

Hoje amanheci ansiada, com uma sensação de que deveria me manifestar a respeito do feminismo, já que tenho lido tanta bobagem nas redes sociais a respeito da citação de Simone de Beauvoir, na prova do ENEM.

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Ao negar a assertividade desta frase, estamos negando que os seres humanos não são apenas seres biológicos, mas também são uma construção sócio-histórico-psíquica e, por que não dizer, também espiritual. A biologia, tão e somente, não faz de nós quem somos. E, ao negar essa completude, esse ser holístico que somos, negamos também a subjetividade do outro que nos cerca.

O fato é que precisamos do feminismo, quer as pessoas gostem ou não. Precisamos do feminismo quando, ao ir para a parada de ônibus vazia num domingo, e ser confundida (pela milésima vez) com uma prostituta, o homem que me aborda diz que, se eu não quisesse ser confundida, não usaria batom vermelho. Precisamos do feminismo quando, ao estar à espera de um ônibus em uma das rodovias mais movimentadas, sozinha, pelo menos cinco de cada dez carros passa e buzina. Precisamos do feminismo quando a simples presença de mais de um homem em um local que estou sozinha, em vez de me provocar alívio, me causa medo. Precisamos do feminismo quando eu estou em uma festa e os caras se acham no direito de invadir meu território e tocar em mim sem autorização prévia. (Mas, afinal, o que eu estava fazendo com aquela roupa? O que eu estava fazendo na balada? Por que eu estava bebendo, não é mesmo?) Precisamos do feminismo quando tenho medo de voltar para casa à noite, mesmo que eu tenha ficado até tarde na rua para trabalhar ou estudar, isso realmente não importa. Precisamos do feminismo quando meu medo de ser estuprada faz com que eu deixe de sair em alguns momentos, ou, quando eu saí, me faz correr pela rua, na ânsia de chegar segura em casa. Precisamos do feminismo quando eu passo oito anos apanhando de uma pessoa que prometeu me proteger diante do altar. Precisamos do feminismo quando eu sou estuprada por este mesmo homem, que pensa que o papel assinado dá a ele este direito. Precisamos do feminismo quando eu sou abusada sexualmente por um primo ainda na primeira infância. Precisamos do feminismo quando na adolescência um cara tenta me estuprar enquanto ainda estou bêbada e, quando tento denunciar, me dizem que minha roupa o provocou. Precisamos do feminismo quando um cara goza na minha calça no trem e tento esconder porque me sinto constrangida. Precisamos do feminismo quando eu crio meus filhos sozinha e ninguém questiona meu ex marido pelo fato de nunca ter dado assistência. Precisamos do feminismo quando agradeço por minha filha ter chegado à adolescência sem nenhum trauma sexual. (Muito embora eu saiba que, pelo simples fato de ela ter se tornado uma mulher, correrá o risco o resto da vida!)

Lógico que não espero empatia por parte de quem está preso na sua redoma de vidro, dizendo que a citação de Simone é tendenciosa e esquerdista. Não espero que entendam, quando até mesmo as mulheres dizem que não precisam do feminismo. Mas, uma vez que vivemos em um país democrático (pra quem?), espero um mínimo de respeito. 

Questões de gênero devem ser abordadas. A violência contra a mulher é uma realidade. Ainda vivemos sob a influência do patriarcado branco/europeu/cristão. E, os leitores de Olavo de Carvalho que me desculpem, mas o fato de vocês irem para a guerra desde os primórdios não faz de vocês melhores do que nós. Afinal de contas, quem gera, homem ou mulher, ainda somos nós. E que comecem os mimimis!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O meu lugar (Ânsia por dias mais coloridos)

Há dias tem chovido... 
Dias a fio de temporais e estragos (lá fora e aqui dentro)
Dias assim quero me esconder do mundo.
Era tão mais fácil antes...

Hoje tenho tantas e tantas coisas a fazer,
Pessoas de quem eu devo cuidar.
Eu que nunca soube cuidar nem de mim mesma
Hoje me vejo responsável por outras vidas...

Não estava preparada para isso.
Na verdade, há um abismo imenso que me separa 
De todo o resto... Das pessoas e do mundo...
Hoje me vejo cuidando deles e não de mim.

Quisera ser mais egoísta.
Na verdade, acredito que às vezes sou demais,
Por me fechar e não conseguir interagir,
Por ficar quieta quando quero gritar.

Há certo egoísmo em não compartilhar a dor,
Há certa arrogância no silêncio...
Mas, apesar de tudo isso, ainda me sinto demasiada humana,
Em um mundo de tamanha "desumanidade".

De fato, gostaria de ter para onde fugir,
Um lugar onde pudesse me esconder dos dias cinzentos,
Um lugar onde eu pudesse simplesmente ser eu mesma
Sem mecanismos de defesa.

Acho que não sou mesmo daqui
E por isso reluto tanto em ficar...
Chove lá fora e aqui dentro... 
E, por mais que eu tente, não consigo colorir os dias.

Ter a consciência dessa diferença, dessa distância
Às vezes pode doer por demais na alma,
O amor (pelos meus filhos) é o que me faz querer ficar
Mas ainda sigo acreditando que meu lugar nunca será aqui!

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Sobre o amor em tempos de Tinder

Nunca escolhi livro pela capa. Nunca mesmo. Tudo que li ou foi por indicação, ou por pressão(professores na faculdade, essas coisas). No entanto, escolhemos o amor pela aparência. Sim, isso mesmo. Aceitamos ou descartamos pessoas de acordo com a foto que elas mostram no perfil. E muitas vezes nem nos damos o trabalho de abrir para ver as outras fotos. Classificamos seres humanos: este é muito gordo, muito velho, muito bombado, huuummm, 38 anos e sem filhos, escreve errado, etc, etc, etc. 
Pessoas que tem um rosto, que podem ou não ter algo escrito em seus perfis, mas que, de toda e qualquer forma, suas almas desconhecemos por completo, suas histórias, suas lutas. Muito já foi escrito sobre a nossa geração que tem um vasto cardápio à sua disposição e que, exatamente por isso, não se predispõe a consertar relações, simplesmente manda vir o próximo da lista.
Isso é o que chamamos de conquista? Esse esvaziamento de significados e de significantes? Eu acho muito triste. Sim. Triste. Não há outra palavra que defina. Tudo muito fugaz. Você descobre alguém que tem algo em comum com você, engatam um relacionamento aparentemente feliz, com muitas fotos de passeios maravilhosos, jantares, momentos a dois, publicadas nas redes sociais e, de repente, está se vangloriando por estar novamente solteiro. Ninguém mais vivencia o luto pelo outro que foi embora. Ninguém mais chora por amor. Depois do fim, a volta ao Tinder, a volta à busca e a roda gira de novo. 
Há quem virá dizer que é só sexo. Ok. Sexo sem amor, sem compromisso, sem intimidade. Oi? Eu disse sem intimidade? Sim, disse. E é isso mesmo. Se alguém aí conhece alguém que faça sexo bom, daquelas fodas épicas, sem intimidade, dou um prêmio. Porque sexo, meus amigos, a meu ver, melhora com o tempo. Quando a gente começa a conhecer as vontades e manias do outro e também - e não menos importante - quando a gente se conhece e sabe bem o que quer na cama. E não é lição de moral. Mas a verdade é que hoje a preocupação é bem maior com a quantidade do que com a qualidade. 
Vou dizer que não tenho moral para dar lição de moral. Estou no Tinder, também classifico as pessoas, também analiso pela aparência, afinal, não há muita coisa além disso para analisar em um primeiro momento. Mas, gente, beleza atrai, conteúdo convence. Sei que dá medo se envolver com alguém, sei que o amor, a paixão, machucam, mas, resumir a vida a casinhos rasos não pode ser o maior objetivo. Todo mundo precisa de sexo. Isso é fato. E nós, mulheres, hoje podemos dizer isso com todas as letras, também precisamos, também gostamos. Mas não pode ser só isso. 
Particularmente falando, sempre que dou "Unmatch" fico me perguntando se ali não estaria uma pessoa bacana que perdi de conhecer. Nossa arrogância está nos fazendo perder o pouco que nos resta de humanidade. Estamos nos perdendo uns dos outros. Perdendo oportunidades únicas de fazermos amizades, de termos parcerias constituídas com pessoas que podem ser especiais. Estamos abrindo mão de histórias. Pra contar. Pra viver. E, todos os dias, tenho me perguntado onde vamos parar se a carruagem seguir desta forma...
Pode parecer clichê, mas, de tudo o que já foi dito, escrito sobre a geração Tinder, espero que fique um prenúncio de esperança para as próximas gerações. Que eles sejam capazes de reconhecer o amor, mesmo que de maneiras meio tortas. E que, apesar de "se divertirem com as pessoas erradas, enquanto as certas não aparecem, possam se encantar com as coisas que a vida nos traz e que, muitas vezes, não conseguimos perceber, perdidos em nossa ânsia em evitarmos todo e qualquer sofrimento.