terça-feira, 17 de maio de 2016

O amor transforma a gente...

Despretensiosamente, a gente acaba, mais uma vez, naquele perfil... Aquele perfil de um aplicativo/site de relacionamento que, sabemos, não dará em nada... Nessas idas e vindas, vamos conhecendo pessoas, conversando com algumas, encontrando com outras... É a mesma rotina cansativa de sempre. Relações superficiais, baseadas em sexo e disfarçadas de amizades coloridas, que, na verdade, verdade mesmo, de amizade não tem absolutamente nada. A maioria das pessoas já envolvida em outras relações, que sequer ousam admitir para si mesmas que já fracassaram há muito tempo, teimam na conversa tola de que não podem ter nenhum tipo de envolvimento. Percebe-se isso quando a gente se dá conta de que não há envolvimento por parte destas pessoas nem mesmo com relação às pessoas que caminham ao lado delas, coitadas...
Então, um belo dia, alguém sai do lugar-comum. Alguém se destaca em meio à multidão de babacas inconformados com suas vidinhas pacatas. Essa pessoa surge do nada para restabelecer o pouco que te resta de fé na humanidade. Quer se apaixonar, quer sentir, quer correr o risco. e isso te surpreende tanto, que tu não consegue ver isso como algo natural. Algo está errado. Estará jogando? Estará mentindo? Qual é a desse cara, que insiste tanto... Por que, afinal, essa insistência?
Assusta, eu sei. É algo que não estamos mais acostumados. Nem sabemos mais como é ter alguém invadindo nossa rotina, não estamos mais acostumados com alguém ocupando espaços antes vazios. E, então, vem o medo. O medo do fim. Sim, isso mesmo. Antes mesmo de começar, temos um medo incontrolável de que termine. Não queremos, então, que a pessoa ocupe estes espaços exatamente para não termos de conviver com o vazio novamente quando ela tiver ido embora. É, sim, muito contraditório. Sabotamos a nós mesmos e a nossa felicidade pelo medo irracional de sofrer. Por que não pode ser esta a pessoa que veio para ficar? Por que não pode ser esta a pessoa que vai envelhecer junto conosco?
A resposta é simples: porque deixamos de acreditar. Bauman se refere às frágeis ligações que se estabelecem nos tempos modernos, pois tudo está muito dinâmico, por causa da falsa sensação de ligação e conectividade que temos com as pessoas, por conta da internet. Falsa, sim, porque bem sabemos que, ao mesmo tempo em que há a possibilidade de nos aproximar de quem está longe, também nos afasta, e muito, de quem está perto. Relações efêmeras nascem, crescem, e morrem na rede. Mas, sinceramente, não sei se a internet seria a única causa dessa mudança de comportamento. Há muitas coisas por trás deste "esfriamento" nas relações. Medo de se machucar, medo de sofrer, dificuldade em aceitar a finitude de todas as coisas...
Então, quando, em meio a todo esse contexto, encontramos alguém que de fato se preocupa, que realmente nos quer bem, o que fazer? Se jogar ou manter um pé sempre de fora para tentar evitar, de alguma forma, o sofrimento inevitável? Outro dia, li uma frase, cuja autoria não recordo agora, que dizia mais ou menos o seguinte: "Amar é jogar-se no abismo e  esperar que o chão nunca chegue." É isso! Eis o ponto. Nunca saberemos se vai dar certo, se vai existir o tão sonhado "pra sempre". Nunca saberemos se aquela pessoa veio para ficar, ou se vai embora como tantas outras fizeram antes dela. Mas, ainda assim, não vale tentar? Não vale viver intensamente todos os momentos e, depois, caso o fim chegue, guardar com carinho todas as lembranças? Será que vale a pena abrir mão de tantas coisas legais por medo?
Eu estava entregue, ao Tinder, às redes sociais cada vez mais vazias, estava conformada com as relações meia boca que viriam através desses meios. Cheguei a acreditar que o amor não era pra mim, não mais. E sequer me imaginava dizendo "eu te amo" para alguém que não fosse meus filhos, as poucas pessoas da família que me restaram ou amigos mais próximos. Mas eis que a vida surpreende e, em menos de três meses, um sentimento avassalador tomou conta de mim. O farfalhar de folhas outonais voltou à minha barriga, entregue ao vento do amor que sopra suave, tal e qual brisa... As famosas borboletas no estômago voltaram à vida, cada vez que aqueles olhos castanho esverdeados me fitam, cada vez que aquele sorriso me sorri.
Se vai durar, não sei. Se vai ser pra sempre, tampouco. Costumo carregar comigo a plena consciência da finitude de todas as coisas. Mas, ainda assim, estou entregue! Depois de quase seis longos anos sem me apaixonar, estou completamente entregue ao amor, vivendo cada momento, desfrutando de uma intimidade ímpar, que só melhora a cada dia que passa e sem pensar muito no que poderá acontecer amanhã.
Quanto aos que passaram na minha vida ao longo destes seis longos anos, serviram, nada mais, nada menos, para me fazer ver que, sim, eu ainda sou capaz de atrair olhares, seja pela minha beleza (que, prefiro dizer, é mais interna do que externa), seja pela minha inteligência, seja pelo meu senso de humor (ácido)... Sou intensa, sou furacão, por isso, não mereço viver de metades. Todos os que passaram na minha vida até agora, me trouxeram até aqui, até ele, com tudo o que aprendi e o mundo de coisas que ainda tenho que aprender. Estou pronta. E vou de mãos dadas. Porque o amor transforma a gente. Transforma-me e transformou-me no melhor que posso ser. E você? Está pronto para ser transformado?