terça-feira, 9 de julho de 2013

Entre erros e acertos: por um professorado mais ético!





Comprometimento: 1. Ação de arcar com um compromisso feito a alguém, se utilizando de regras propostas a fim de se alcançar a exatidão do ato ou ação. 2. Qualidade de ater-se às escolhas feitas. Começo este texto com a palavra de ordem do momento: comprometimento. Ainda segundo o dicionário, alguns de seus sinônimos são: envolvimento, compromisso, responsabilização. Conheço bem estas palavras. Mas, ao voltar de um congresso de educadores, tudo o que fiz foi lamentar ao perceber que a maioria de meus colegas desconhece tais significados. O que venho fazer aqui nesta postagem hoje, amigos, é muito mais do que lamentar, é, também, denunciar.

Participei no penúltimo final de semana de um congresso voltado a professores e funcionários do Estado que são sindicalizados (coisa que sou desde o primeiro ano em que entrei no exercício de minhas funções), com o objetivo de deliberar algumas resoluções sindicais que são de extrema importância aos interessados. Algumas das coisas discutidas tem profunda relação com a sala de aula, com o pleno exercício de nossas funções na escola, como o processo de inclusão e o ensino médio politécnico. Mas, entre outras coisas, também foram discutidas e, vejam bem, votadas, escolhidas, outras resoluções de suma importância, tais como projetos de meio ambiente e sustentabilidade, aposentadoria e contratação emergencial e um possível rompimento do sindicato que nos representa com a CUT (Central Única dos Trabalhadores), este último, com certeza, um divisor de águas histórico para a categoria. O encontro fora dividido em dois momentos: no sábado, todos foram divididos em grupos para votarem e discutirem as resoluções que entrariam na discussão e votação do grande grupo. No domingo, tudo que fora escolhido no dia anterior entrou em votação e deliberação de TODOS. 

O que tenho para dizer aqui me é penoso e vergonhoso, mas tem de ser dito. Todas as pessoas que são sindicalizadas sabem a importância que tem o sindicato nas muitas lutas e conquistas dos trabalhadores. Há uma contribuição mensal que é descontada em folha que paga as custas do sindicato. Portanto, àqueles que tem a falsa crença de que a viagem e tudo o mais fora de graça, tenho uma notícia para dar: saiu do meu, do teu, do bolso de todos que contribuem e que, por um "acaso", não puderam estar presentes no evento. Pois bem. Toda a viagem, incluindo despesas com hotel, comida e tudo o mais foi bancada pelo sindicato, visando a importância do momento para a categoria. Mas, como eu disse anteriormente, fomos todos nós que pagamos, portanto, a representatividade nas votações era o mínimo esperado por todos aqueles que também ´pagam o sindicato e que por ventura não puderam estar lá. O que tenho para dizer é lamentável. Uma parcela bem grande, inclusive do grupo do qual fiz parte, do 14º Núcleo do CPERS, foi pelo turismo. Isso mesmo. Até mesmo porque tem a falsa crença de que era "boca livre", esquecendo de que sai do bolso de todos, até mesmo deles próprios. 

No sábado, quando as resoluções foram votadas nos grupos menores, tinham algumas "delegações" vendendo pacotes de turismo, para fazer compras em Farroupilha. Por vinte reais, uma van pegava você em frente ao local do evento e você poderia passar a tarde no shopping, enquanto os colegas comprometidos ficaram lá por mais de 3 horas votando em temáticas que são importantes - como eu já mencionei acima - a todos. Este foi o primeiro absurdo de muitos outros que ainda estavam por vir. Já sabemos que uma boa parcela dos escolhidos a participarem do evento optou pelo turismo, mas ainda temos uma outra parcela. A parcela dos que ficaram dormindo nos ônibus enquanto o evento ocorria. Sim, isso mesmo que vocês acabaram de ler. Pessoas que ficaram não só na tarde de sábado, por talvez terem considerado que a tarde de domingo seria mais importante, mas que também passaram a tarde de domingo inteira, passeando no local do evento ou dormindo dentro dos ônibus. Lógico que esta denúncia é importante e tenho plena consciência de que, a partir dela, muita gente poderá "ficar de mal" (notem que sequer menciono o risco de perder o emprego) - porque o chapéu certamente irá servir. Mas sinceramente, não me importo. Ando cansada dos abusos e absurdos que tenho visto. E, como disse outrora, tenho a palavra como principal arma na luta contra a injustiça. E seguirei lutando, uma vez que, como dizem, vivemos num país democrático.

Isto não é tudo, gente. depois de ter participado ativamente em todos os momentos do evento ( domingo foram mais de sete horas sentada votando e ouvindo defesas das resoluções), de ter valorizado o meu dinheiro e os dos milhares de colegas que também contribuem e que não se fizeram presentes no evento, ainda tem mais, muito mais, a ser dito. Preparem-se, não será agradável.

Não sei contabilizar quantas pessoas tinham no evento, mas possivelmente passaram das três mil. Como já disse antes, era voltado para professores e funcionários de escola, mas, com certeza, a maior parte era composta por educadores, com formações das mais diferentes áreas, mas que atuam ou atuaram como professores em escolas do Estado, oriundos das mais distintas regiões do Rio Grande do Sul. Os serviços de restaurante e de limpeza foram contratados pelo CPERS para atuarem no local e, com certeza, não há reclamações de tais serviços prestados. A comida era sempre de primeira e nunca faltou a quem quer que seja. Os hotéis, por sua simplicidade, em algumas cidades, talvez tenham deixado a desejar. Mas eu, pessoalmente, não tenho do que reclamar. Já fiquei em lugares muito piores. E não sou e nem nunca fui rica para exigir mais do que isso. 

Então, caros colegas, exatamente por ser um congresso de professores, algumas coisas que vi e ouvi por lá me foram pesarosas por demais. Decepção com a classe e com a profissão. Triste, triste, triste. Os relatos começam desde a primeira noite, onde, na fila para o jantar, muitos - muitos mesmo - furaram fila, aderindo ao bom e velho "jeitinho brasileiro". Ridículo. As filas que se formavam a cada refeição eram enormes, considerando-se o número de pessoas que tinham, mas, como comentei antes, não faltou comida a quem quer que seja. Pessoas invadindo lugares, correndo para o buffet, como se fosse o último momento em que comeriam algo em suas vidas. Algo que costumamos ver talvez em shows de grande porte, com adolescentes, mas que nunca em minha vida pensei que veria acontecer com pessoas maduras e com certa caminhada na área da educação. 

Nos banheiros, haviam placas improvisadas pela organização que solicitavam que não se jogasse erva de chimarrão nas pias. Isso mesmo. Difícil de acreditar, mas, as pessoas fizeram este tipo de coisa, sempre com aquela ideia de que as pessoas que estavam lá trabalhando estavam lá para "servir". Assim que tratam os funcionários em suas escolas. Assim que agem o tempo todo, destratando lojistas, motoristas, atendentes, pessoas honestas que estão também - ora vejam só - ganhando seu sustento, através de um trabalho minimamente digno. Como disse em uma outra postagem, os nossos diplomas compram arrogância e prepotência. Junto com eles, vem a falsa ideia de que somos mais do que outros e que nossos saberes são mais importantes do que os dos demais. As meninas que estavam trabalhando na limpeza e manutenção dos banheiros, meus deuses, estavam assustadas. E com razão. Era animalesco. Até seria ofensa dizê-lo porque até meus gatos limpam a sujeira que fazem. Professoras que se achavam no direito de colocar papel toalha no chão, como se fosse um chiqueiro. E papel toalha de ótima qualidade, diga-se da passagem. Deu-me pena. Um gasto exacerbado com coisas que poderiam ser poupadas, que poderiam ter sido gastas em outras coisas. Mas, imperou a falsa ideia de que "era de graça mesmo, então vamos gastar." Falta de consciência, falta de educação, falta de humanidade. 

Vindo de outras pessoas, talvez, pudéssemos usar daquela velha desculpa de que não tiveram educação. Mas, minha gente, estamos falando de pessoas diplomadas. Pessoas que, a meu ver, não devem ter comprado seus diplomas... Ou será que compraram? Por estas e outras coisas que insisto em dizer que formação não gera caráter. Diploma não compra sensibilidade. Curso nenhum no mundo humaniza. Isso está ou não está em nós. Simples assim. Ou não tão simples... A questão é que é chocante e lamentável. Somos pessoas que trabalham com seres humanos, mas percebo que muitos de nós sequer são humanos. Como humanizarmos, como exigirmos algo de nossos alunos que nós mesmos não somos capazes de fazer? Eis a questão... E essa pergunta não vai calar. 

Queremos unidade numa classe que não tem caráter. Onde, dentro das escolas, passamos levando rasteiras de colegas que eram para ser parceiros. Além de todas as preocupações que temos, temos de tentar nos livrar das garras de pessoas que não tem ética e nem moral para estarem dentro das escolas. Mas estão lá, com seus empregos garantidos por uma gestão que protege e esconde arbitrariedades. Vítimas de nós mesmos. Não tem como ser classista numa raça como esta. Não tem mesmo. As pessoas reclamam dos advogados, mas insisto em dizer que o professor ainda é a pior classe que existe. E deveria ser a melhor. Insistimos em dizer que somos desvalorizados, que nossos salários são baixos, mas estamos sempre dando um jeito para não cumprir nossa carga horária. Sempre escamoteando, escondendo, jogando. O que é isso, minha gente? Até quando? Chega de hipocrisia! Chega de proselitismo! 

Estou decepcionada. Nunca sonhei em ser professora, mas, a partir do momento que me tornei uma, fiz jus a cada minuto em que cumpri este papel. Perdoem-me os hipócritas e medíocres. Mas não me contento em ser mediana. Se não for para fazer a diferença, mínima que seja, na vida do meu aluno, eu nem trabalharia. Me esconderia atrás de um balcão qualquer e me incomodaria bem menos. Mas sigo lutando porque tenho ideais. Parem de reclamar e arregacem suas mangas. Façam por merecer o cargo que ocupam. Participem, opinem, sejam críticos e, principalmente, tornem seus alunos críticos também. Vale a pena. Caso contrário, pendurem suas chuteiras, mudem de área, aposentem-se. O mundo já tem gente desonesta e déspota o suficiente. Não precisamos que este tipo de gente esteja nas escolas. Vocês estão na área errada se acreditam que ficarão mais ricos tirando vantagem. Aqui todo mundo segue ganhando igual e, vou dizer uma coisa para vocês, tem gente que nem merecia o parco salário que recebe. Eu faço minha parte, e você?

"Manhê! Tirei um dez na prova
Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova
Decorei toda lição
Não errei nenhuma questão
Não aprendi nada de bom
Mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi
Decoreba: esse é o método de ensino
Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino
Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos
Desse jeito até história fica chato
Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo
Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo
Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente
Eu sei que ainda não sou gente grande, mas eu já sou gente
E sei que o estudo é uma coisa boa
O problema é que sem motivação a gente enjoa
O sistema bota um monte de abobrinha no programa
Mas pra aprender a ser um ingonorante (...)
Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir)
Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre
Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste
- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?
Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita
Ou sobre a tênia solitária.
Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)
Vamos fugir dessa jaula!
"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)
Não. A aula
Matei a aula porque num dava
Eu não agüentava mais
E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais
Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam
(Esse num é o valor que um aluno merecia!)
Íííh... Sujô (Hein?)
O inspetor!
(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)
Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar
E me disseram que a escola era meu segundo lar
E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente
Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!
Então eu vou passar de ano
Não tenho outra saída
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
Discutindo e ensinando os problemas atuais
E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais
Com matérias das quais eles não lembram mais nada
E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada


Encarem as crianças com mais seriedade
Pois na escola é onde formamos nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância, a exploração, e a indiferença são sócios
Quem devia lucrar só é prejudicado
Assim vocês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio
Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio..."

(Estudo Errado, Gabriel o Pensador)