terça-feira, 15 de julho de 2014

Apesar de você

Antes de começar a escrever sobre você, eu já sabia qual seria o título... Cuidei ao escolher a fonte do texto... Minha fonte predileta é a "Georgia", eu escolhi a "Times" para falar de você, simplesmente porque soa como trabalho acadêmico ou coisa assim... O "negrito" e o "itálico" são para frisar a importância... Preciso falar de você para me livrar de seu fantasma, que me assombra desde o dia em que você me deixou... Vai ser só agora. Depois disso, cairás em esquecimento, como todos os outros antes de você.
Quando você sumiu, tentei justificar para mim mesma de diversas maneiras... Pensei, sinceramente, que você tivesse morrido. Ou que tivesse sido sequestrado, ou ainda, quem sabe, abduzido por extraterrestres... Inventei diversas, milhares, teorias da conspiração que explicassem o teu sumiço, qualquer coisa que tirasse a culpa dos meus ombros, que não me fizesse acreditar que, de alguma forma, a culpa fosse minha, pela minha força, pela minha auto suficiência, pela minha falta de fragilidade... 
Mas, ontem de noite, quando eu voltava do trabalho, caiu a ficha. Pessoas mortas não bloqueiam a gente no Whats. Quando pessoas morrem e somos importantes para elas, somos sempre avisadas por alguém da família, ou algum amigo próximo. Então, concluo que você não morreu. Talvez teve medo, talvez... Talvez em algum momento pensou que não era isso... 
Foi vertiginoso. Nos redescobrimos depois de anos nos falando como amigos... E nos apaixonamos como dois adolescentes. Não, peraí... Eu disse "nos"? Desculpe. Não. Eu me apaixonei. Depois de anos construindo novos muros dentro de mim. Depois de anos de relações meio vazias... Você derrubou as barreiras. Você em um mês conseguiu muito mais de mim do que muitos caras não conseguiram em anos. Eu tive medo e te falei do meu medo. Por experiência, sei que as coisas, quando começam rápidas demais, tem a tendência de terminarem também muito rápido. Fui tola... Como jamais poderia ter sido com a estrada que já percorri. 
No começo, ainda esperei que você voltasse... Cada mensagem no celular eu pensava que pudesse ser você dando uma desculpa qualquer, afinal, essas tecnologias sempre nos abandonam quando mais precisamos delas. Todos os dias, quando chegava na escola em que trabalho, esperava ver teu carro lá na frente. Esperei em vão... Expectativas machucam mesmo por demais...
Mas, escrevo agora porque sei que você vai ler, já que me acompanha no blog, se é que realmente não morreu, coisa que acredito que não... Então, quero que você saiba que, apesar de você, no outro dia já tive que acordar cedo e continuar vivendo. Apesar de você, tive de buscar forças que nem sabia que tinha - e eu tinha e ainda tenho - para seguir em frente. Apesar de você, continuei sorrindo, pois tenho outras razões para isso. Apesar de você, sigo encontrando novos caminhos e possibilidades. E, finalmente, apesar de você, ainda acredito no amor e tenho valorizado cada pedacinho de mim. Porque sabe, pessoa, aquela máxima do Nietzsche que te falei uma vez, "tudo que não me mata, me fortalece", é isso. Essa sou eu. Estou mais forte depois que você se foi. E nem pense em voltar. Porque, apesar de toda a saudade de tudo o que não vivemos, dos planos que fizemos que jamais deixarão de ser utópicos, do lugar em minha cama que você nunca chegou a ocupar, sou muito mais eu agora! Apesar de ter te amado, saiba de uma coisa: amo muito mais a mim mesma. E, no fundo, no fundo, apesar de saber que com você eu poderia discutir política e filosofia quase de igual pra igual, eu sempre soube que era mulher demais para você. Então, fique onde está. Jamais pense em me procurar de novo, porque eu não só superei você, como te esqueci do jeito que você merece! Seja feliz porque gente feliz não incomoda! E, uma última coisa, depois que ler isso, que saberá que é para você, deixe de me seguir no blog e apague meu e-mail dos teus contatos, realmente não quero e nem espero mais por notícias tuas! Obrigada...

domingo, 6 de julho de 2014

Não me coisifique! Ainda sou gente!

Sei que deve ser normal nos dias de hoje... Sei que as coisas estão difíceis e que as pessoas estão frias e individualistas... Mas venho hoje dizer uma coisa óbvia, em dias em que ainda é necessário reivindicar o óbvio... Ainda não viramos coisas. Sim, isso mesmo. Ainda somos pessoas, embora alguns mais humanos do que os outros. Sei que tem gente que não merece um mínimo de consideração, pessoas que perderam a humanidade - ou o que restava dela - ao longo do tempo. Mas quem somos nós para julgar isso? Penso que todo mundo é bom até que se prove o contrário, ou que a pessoa mesma o prove... Desta forma, se a pessoa te decepcionar, teoricamente, ela que irá colher os frutos ruins lá na frente. Você, que foi decepcionado, sofre agora, mas colhe bons frutos num futuro que algumas vezes parece mais distante do que você gostaria...
Sei que parece piegas e moralista demais, mas eu parto da máxima de não fazer para o outro o que você não gostaria que fizessem com você, tipo, ter empatia e se colocar no lugar do outro. Tempos difíceis os nossos em que tudo isso anda tão raro... Como acreditar na humanidade se nos decepcionamos com pelo menos 4 pessoas, a cada 5 que conhecemos... Que triste isso... 
Temos sido descartáveis. É, mais ou menos isso, sim. Embora eu já tenha dito e tenha cada vez mais certeza de que aprendemos a viver sem as pessoas que um dia tanto amamos em nossas vidas, ninguém será totalmente substituível pelo simples fato de que somos únicos. Então, mesmo que não tenhamos razões para admitir, as pessoas sempre deixam algo delas conosco... E levam algo de nós com elas. É física quântica, questão de energia, sei lá... Seja a lembrança do olhar trocado, seja o cheiro, o abraço, o toque. Fica algo. Hoje fiquei me perguntando em que momento que perdemos a nossa capacidade de enxergar essas pequenas coisas no outro. Quando que perdemos a nossa capacidade de admirar as outras pessoas pelo que são...
Meus deuses, hoje fiquei abismada do quanto nos "coisificamos" uns aos outros... Sei bem que tenho sido uma amiga por vezes ausente, ando trabalhando demais e me privando de momentos juntos de meus amigos, pois tenho preferido ficar em casa e tenho primado pelo meu descanso nas horas de folga. Mas quem me conhece pelo menos um pouco sabe que, uma vez cultivada minha amizade, sempre que precisar de mim, estarei lá. Prezo muito meus companheiros de estrada. Muito mesmo. Mas me chateia a artificialidade e as situações forçadas. Apesar de nós, mulheres, já termos alcançado um patamar muito parecido com os homens em relação a direitos, ainda estamos longe de sermos respeitadas de fato. Mesmo que já tenhamos a capacidade de separar sexo de amor, meus queridos, como de fato sabemos fazer bem, não significa que estaremos disponíveis para vocês sempre que precisarem esvaziar os seus sacos e/ou aliviarem suas tensões. É abusivo e absurdo ter homens (homens?) que ainda enxergam as mulheres como meras fontes de prazer, nada além disso...
Se é apenas isso que querem, meus queridos, paguem por isso! Os jornais em circulação hoje em dia, estão cheios de anúncios de sexo fácil e bem barato. Sem complicação, sem enrolação, sem precisar de ligação no outro dia ou de algum tipo de consideração. Resolvidos os problemas de vocês a preços populares! Olhem bem. Coisa que não se tinha antigamente...
Mas, com mulher, mulher que tem história, que luta todo o dia sem precisar de um macho do lado, que cria filhos sozinha, que mata um leão por dia para conseguir um lugar ao sol, não rola de ter sexo instantâneo na hora em que você quiser. Vai ser na hora em que ela quiser, sempre! Fique bem atento a isso... E aborde-a como gostaria que abordassem a sua irmã, a sua filha, porque ali tem um ser humano e não uma coisa... E, apesar de ter muita gente que se conforma com o papel de mero objeto, em contrapartida ainda tem muita gente que gosta de ser tratada como gente. Tenha discernimento para diferenciá-las. Quem planta banana jamais colherá morangos... E, ao partir um coração hoje, amanhã, por mais que já tenha esquecido, haverá alguém para partir o seu. Mais certo quanto dois e dois são quatro. A lei do retorno funciona, você acreditando nela ou não... 
Precisava desabafar antes de dormir... Foram muitas decepções em tão poucos meses, de pessoas que não esperava... Muitas promessas não cumpridas, muitos sonhos desfeitos antes mesmo de terem a remota possibilidade de se realizarem... E eu sigo acreditando, sigo sendo trouxa... Todo mundo é bom até que se prove o contrário, ou até que nos prove o contrário... A vida é assim mesmo... E seguirei plantando lágrimas para colher sorrisos... Mesmo que nem seja nesta vida ainda...

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O adeus que nunca fora dado

Gatos pretos... Todos conhecem o mito que há por trás de todo o gato preto... Seres mágicos por natureza são todos os felinos, mas o gato preto guarda o mistério de todas as coisas. Não, não me refiro ao azar. Mas me refiro à magia. Os gatos pretos são portadores de todos os desconhecidos deste e do outro mundo. O Sr. Frodo nunca fora diferente...
Lembro-me do dia de sol em que o vi na gaiola, numa petshop que nem existe mais, numa esquina movimentada da cidade... Eram ele e a irmã, negros como a primeira hora antes de amanhecer. Eu o quis desde o primeiro momento em que o vi. Já tinha tudo preparado em casa para recebê-lo, comida, areia, amor e um nome... Frodo. 
Levei-o para casa e ele, estranhando o lugar novo, ficou dois dias inteiros embaixo da estante da sala miando... Pensei que nunca sairia de lá. Em algum momento deve ter saído para comer ou tomar água, mas o fizera escondido. Desconfiava ainda de tudo, mas já era muito amado, antes mesmo de ter chegado. Foi um gato planejado. Sim, isso mesmo. Como fazemos com os filhos, eu planejei tê-lo. 
Quando tive de me desfazer da Lilith outrora, por causa das velhas mentiras sobre toxoplasmose e tudo o mais, esperei anos e anos o momento certo de ter um gato outra vez. Filhos crescidos, trabalho à vista, comecei a me articular. Ia, finalmente, ter um gato.
Ele fora especial desde o momento em que coloquei o olho nele. Pensei: "Nossa, o verdadeiro gato de bruxa!". Quisera ter ficado também com a irmãzinha dele, mas não tinha muitas condições na época de adotar mais um. 
Depois do Frodo, vieram outros... Ele sempre foi amigo de todos, passado o período normal de adaptação. Elfo foi o primeiro, depois o Mustapha. Depois o Kowalski e o Sr. Rudolf com quem ele conviveu. 
Frodo era um gato que vinha no colo. Parecia reconhecer meus momentos de tristeza e me acolhia em sua força. E foram muitos. As brigas antes da separação, o fim do casamento, a adaptação em casa nova, aliás, mais de uma vez.. Ele suportou calado, sempre ao meu lado, sempre no meu colo, sempre, onde quer que eu estivesse, seu ronronar manso me acompanhava e acalentava. 
A última mudança não foi fácil para ele, pois saímos de um apartamento para irmos a outro que era praticamente a metade do tamanho. Ele e Kowalski, apesar de castrados, começaram a disputar território e se machucarem... Tive de tomar uma decisão que em nenhum momento foi fácil para mim, mas, enfim, precisou ser feita. 
Doei o Frodo para uma pessoa com a qual ainda teria contato, poderia vê-lo sempre que quisesse, ele ganharia a liberdade que tanto amava e seria feliz no novo lar. Mas, nos primeiros dias, ele sumiu. Era como um protesto, acho eu, depois de tantas e tantas tempestades pelas quais passamos juntos, mais essa... Fiquei desesperada, mas, depois de três dias, ele finalmente reapareceu e acolheu o novo lar. Tive oportunidade de vê-lo ainda muitas vezes. As entradas furtivas dentro da casa, as sonequinhas que tiramos em meio a tardes frias, ainda eram possíveis e palpáveis. Mas então ocorreu um afastamento inevitável e fiquei tempo sem vê-lo... Coisas da vida...
A notícia de sua morte me arrebatou. Mexeu comigo de um jeito que não tem explicação. Enquanto eu chorava e me culpava por não ter dado um último adeus, passava um filme em minha cabeça... O filhotinho que peguei da gaiola, que adorava caixas de leite e que espiava a gaiola dos passarinhos inocentemente. O gato adulto que fugia à rua sempre que dava, que voltava todo machucado e que se enfiava em meus braços arrependido, sempre com a promessa de não fazer mais, mas, assim que melhorava, lá ia ele de novo... Todas as vezes que dormimos juntos, que adormeci com o ronronar mágico em meus ouvidos, todas as vezes em que ele se sentava no banheiro e esperava pacientemente eu sair do banho. As caças trazidas, o pedaço de pão roubado ou dividido. O miado estridente que soava na porta na volta para casa... 
Difícil dimensionar a dor que causa a perda... Porque cada um deles é único, como nós também somos... Impossível substituir por outro, mas o outro acalenta a dor da perda, apazigua o coração sofrido e transforma as lágrimas novamente em sorrisos.
Sr. Frodo, que por certo se juntou à escuridão da noite, com seu pelo brilhante e olhos amarelos cor de ouro, que você esteja feliz neste outro plano, que tenha muito espaço e bolas com guizo para você brincar. Espero que olhes por mim aí de cima e carregue consigo a certeza de que tudo o que fiz por você foi por amá-lo demais. Vou viver a partir de agora com a certeza do reencontro e que você, Mustapha, Elfo e Lilith devem estar fazendo parceria nas correrias e brincadeiras e que certamente estarão me esperando chegar. 
Sentirei sempre a tua falta e o lugar que você ocupava em meu coração será para sempre teu, que a noite te guarde e que você esteja comigo sempre que eu estiver no escuro. Te amo e sempre te amarei, meu filho lindo. Vai em paz!

Para aqueles que não gostam de gatos e que não sabem lidar com a independência e autonomia deles, vai o meu lamento. Gatos são parceiros inestimáveis, são seres que nos ensinam milhares de lições todos os dias. Sou grata aos deuses por terem me dado a oportunidade única de ser amada por eles e de ter todo o respeito e admiração por esta espécie única que é a felina. Logicamente vocês jamais entenderão as minhas palavras e os meus sentires neste momento, por certo acharão exageradas e sem noção. Deixo a vocês um recado: não comentem e não demonstrem sua falta de compreensão, pois não preciso disso neste momento. E, sim, eles são como filhos, meus filhos se criaram como irmãos adotivos deles e exatamente por isso que tem o maior respeito por eles também. É com eles que gasto meu tempo e meu dinheiro, sim e sua crítica com relação a isso não fará com que eu mude... Obrigada pela atenção e por ter lido até aqui, mesmo não gostando de gatos!