quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Tornar-se mãe!


 Um dia, há muito tempo atrás, descobri que nos tornamos "mães" desde o momento em que pegamos um pedaço de papel escrito "positivo" nele. A partir daí, começam mudanças em nossos corpos e nossas vidas que jamais voltam a ser o que foram, nem por um segundo.

Eu já falei em outros textos meus do quanto a Júlia - e depois o Luan - me transformaram, cada um com seu "modus operandi" desde que estavam na minha barriga. Como escreveu Diana Corso, num de seus belíssimos textos sobre sua experiência de maternidade, os dois também são verão e inverno, calmaria e tempestade, sol e lua... Me ensinam muito até hoje e sei que aprenderei com eles até o fim dos meus dias.

Mas estou aqui pra falar da experiência que estou tendo em ver minha filha tornar-se mãe, que vai muito além de me tornar avó (que tenho muito orgulho em ser). Enfim, Júlia teve uma experiência de gravidez diferente das minhas. Saudável, ativa, valente. Nem de perto sofreu as dores físicas que sofri, em ambas gravidez, por razões diferentes... Foi lindo acompanhar a barriga crescendo, as birras dela com fotos, nossas brigas diárias pra que ela diminuísse um pouco o ritmo com o crescer da pança... 

Curtimos todos os momentos junto com minha mãe - a bisa, quem diria - de comprar roupinhas, acessórios, lavar, arrumar... Foi mágico! Tão mágico que em nenhum momento jamais imaginamos estarmos onde estamos agora lutando pela vida.

A cesárea da Júlia foi a sua primeira experiência de dor física severa. Tirando tombos e machucados de infância e idas infindáveis a hospitais para exames, ela nunca havia passado por isso. Eu tive medo porque pensei que ela padeceria... Mas não, pelo contrário, foi corajosa desde o momento que a vi naquela janela da saída da sala de recuperação. Enfrentou a dor com uma bravura imensurável, tanto que 8 horas depois, eu já estava ajudando-a a tomar banho, em pé, sem cadeira nem andador.

Depois do sofrimento físico, das dores inerentes da cirurgia e do pós operatório, veio o sofrimento de ter o filho dela numa UTI, com prognósticos terríveis que me faziam segurar o choro a cada vez que eu os interpretava pra ela. E como chorei escondido dela. No banho, no almoço que eu não ia pra poder chorar, nas pequenas saídas ao banheiro. 

Ir embora pra casa sem o filho nos braços deve ter sido o maior dos sofrimentos pra ela, mas nunca a vi sem a serenidade e a força no olhar. Viemos pra Passo Fundo, 4 horas longe de casa, na mesma ambulância em que veio o Nicolas na encubadora. Eu e ela. Algumas roupas e muitas, muitas dúvidas e medo. Tivemos ajuda de amigos para termos onde ficar, conhecemos pessoas boas que nos ajudaram a estabelecer nossa rotina de visitas e espera, muitaaaa espera... 

Aqui, também iniciamos uma caminhada árdua de prognósticos desanimadores e às vezes desesperadores. Só a vi chorando uma única vez em todo esse tempo. Uma única vez. Ela passa horas prostrada na frente de uma cama de plástico minúscula, sem ouvir os barulhos dos aparelhos ligados ao bebê e, durante muito tempo, sem sequer poder tocá-lo. Mas nunca abriu mão de passar essas horas todas apenas observando seu filho.

Cada dia de pequenas vitórias comemoramos com olhares cúmplices e sorrisos... Hoje saiu 15ml de leite, hoje pude trocar uma fralda, hoje peguei ele no colo, hoje ele ficou no canguru... E assim, a cada dia que vem se passando, em nossas caminhadas matinais rumo ao hospital, em nossas refeições compartilhadas, em nosso cansaço no fim da noite, tenho visto a dor, o sofrimento, mas também a magia e a beleza de minha filha se tornar essa mãe maravilhosa, essa mulher valente, forte e brava que tem se mostrado a cada novo dia...

Todas as dificuldades que compartilhamos, as lágrimas, os sorrisos, hoje ganham um novo significado... Já tinha falado que lar é onde o amor está. Aqui em Passo Fundo não é diferente. Mas vai muito além disso. Lar é onde estamos juntas. Lar é o que temos uma dentro da outra. E isso não vai mudar, onde quer que a gente esteja. O Nicolas sente esse amor. Sente essa mãe. E que mãe! Extraordinária! 

Se tornar mãe dói. Mas ver uma filha se tornar mãe dói mais ainda. Mas que maravilha que é! Que lindo! Que mágico! Que oportunidade maravilhosa de poder estar com ela e cuidar dela neste momento. Obrigada, universo!