domingo, 28 de agosto de 2011

Ah, o diferente, esse ser especial! - Artur da Távola


Ah, o diferente, esse ser especial!
Diferente não é quem pretenda ser.


Esse é um imitador do que
ainda não foi imitado,
nunca um ser diferente.


Diferente é quem foi dotado
de alguns mais e de alguns menos em hora,
momento e lugar errados para os outros.


Que riem de inveja de não serem assim.

E de medo de não agüentar,
caso um dia venham a ser.
O diferente é um ser sempre
mais próximo da perfeição.


O diferente nunca é um chato.
Mas é sempre confundido
por pessoas menos sensíveis e avisadas.
Supondo encontrar um chato
onde está um diferente,
talentos são rechaçados;
vitórias, adiadas;
esperanças, mortas.


Um diferente medroso, este sim,
acaba transformando-se num chato.
Chato é um diferente que não vingou.


Os diferentes muito inteligentes
percebem porque os outros
não os entendem.


Os diferentes raivosos
acabam tendo razão sozinhos,
contra o mundo inteiro.


Diferente que se preza entende
o porquê de quem o agride.


Se o diferente se mediocrizar,
mergulhará no complexo de inferioridade.


O diferente paga sempre o preço de estar
- mesmo sem querer –
alterando algo, ameaçando rebanhos,
carneiros e pastores.
O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual,
a inveja do comum, o ódio do mediano.


O verdadeiro diferente
sabe que nunca tem razão,
mas que está sempre certo.


O diferente começa a sofrer cedo,
já no primário, onde os demais, de mãos dadas,
e até mesmo alguns adultos,
por omissão, se unem para transformar
o que é peculiaridade e potencial
em aleijão e caricatura.
O que é percepção aguçada em:
“Puxa, fulano, como você é complicado”.
O que é o embrião de um estilo próprio em:
“Você não está vendo como todo
mundo faz?”


O diferente carrega desde cedo apelidos
e marcações os quais acaba incorporando.
Só os diferentes mais fortes do que o mundo
se transformaram (e se transformam)
nos seus grandes modificadores.


Diferente é o que vê mais longe do que o consenso.
O que sente antes mesmo dos demais
começarem a perceber.
Diferente é o que se emociona
enquanto todos em torno,
agridem e gargalham.
É o que engorda mais um pouco;
chora onde outros xingam;
estuda onde outros burram.
Quer onde outros cansam.
Espera de onde já não vem.
Sonha entre realistas.
Concretiza entre sonhadores.
Fala de leite em reunião de bêbados.
Cria onde o hábito rotiniza.
Sofre onde os outros ganham.


Diferente é o que fica doendo
onde a alegria impera.
Aceita empregos que ninguém supõe.
Perde horas em coisas que
só ele sabe importantes.
Engorda onde não deve.
Diz sempre na hora de calar.
Cala nas horas erradas.
Não desiste de lutar pela harmonia.
Fala de amor no meio da guerra.
Deixa o adversário fazer o gol,
porque gosta mais de jogar do que de ganhar.


Ele aprendeu a superar riso,
deboche, escárnio,
e consciência dolorosa de
que a média é má porque é igual.


Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados,
magros demais, inteligentes em excesso,
bons demais para aquele cargo,
excepcionais, narigudos, barrigudos,
joelhudos, de pé grande, de roupas erradas,
cheios de espinhas, de mumunha,
de malícia ou de baba.


Aí estão, doendo e doendo,
mas procurando ser,
conseguindo ser,
sendo muito mais.


A alma dos diferentes é feita de uma luz além.
Sua estrela tem moradas deslumbrantes
que eles guardam para os pouco capazes
de os sentir e entender.
Nessas moradas estão
tesouros da ternura humana.
De que só os diferentes são capazes.


Não mexa com o amor de um diferente.
A menos que você seja suficientemente forte
para suportá-lo depois.


(Artur da Távola)



Recebi este texto por e-mail já faz algum tempo. Esta semana, quando estava procurando alguma coisa para levar na escola da minha filha, para a festa da família (em substituição à festa de dia dos pais), a Mauri me reencaminhou este e-mail que eu mesma havia enviado a ela. Foi um reencontro. Estas palavras disseram muito a mim outrora e ainda dizem ao meu coração. Não só porque eu convivo com a diferença e ela faz parte do meu dia a dia, mas também porque eu sempre me senti assim: DIFERENTE. Apenas isso e simples assim. Nunca me encaixei nos moldes e padrões pré estabelecidos, sempre fui mais - ou menos - mas nunca igual. Resumindo: sempre minha intensidade me fez sentir diferente dos demais, porque não sei ser superficial, não sei ser metade, apenas inteira. Por isso que tenho poucos - e bons - amigos. Por isso que choro na frente dos meus filhos. Por isso que muitas vezes falo demais. Mas este texto narra isto mesmo. É uma ode à estas e outras diferenças que, ao contrário do que muitos pensam, não nos diminuem diante dos outros, nos engrandecem e nos tornam especiais. A todos os diferentes, um brinde! Você com certeza não está sozinho!

Carina, 28/08/11.

A escola de faz de conta...

Estou chocada! Deparei-me com uma realidade a qual nenhum livro, nenhum polígrafo, nenhum estudo acadêmico previu que pudesse existir. A escola em nada se parece com o que me lembro dela. Nos tempos em que eu frequentava a escola, como aluna, havia respeito. Respeito ao próximo, respeito ao mestre.

Tenho me perguntado, nos últimos meses, desde que voltei para a sala de aula, desta vez como docente, onde foram parar os valores de outrora? Que fizeram com a moral, a ética, os bons costumes, que fizeram com a educação, afinal?

Tudo o que vejo é alienação. Alunos que vem para a escola predispostos a qualquer coisa, menos estudar. Entram e saem da aula quando bem entendem, atendem seus celulares dentro da sala de aula, mesmo com o professor explicando o conteúdo na frente da sala. Ficam pelo pátio, escutando músicas cujas letras são indescritíveis, fumam, batem papo como se estivessem no boteco da esquina - isso quando não o fazem dentro da sala de aula. Simplesmente ignoram a presença do professor em sala de aula.

Caso o mestre se oponha a alguma destas posturas aqui expostas, sofre retalhações, professores são ameaçados por pais, familiares e, na maior parte dos casos, pelo próprio aluno. São ridicularizados, como se fossem eles quem precisassem dos alunos e não o contrário.

Os alunos estão tão cheios de si que pensam saberem de tudo, ignoram que precisam dos conteúdos até mesmo para terem empregos melhores. Vestibular? Poucos, muito poucos pensam em irem adiante.

Fico observando esta nova maquinaria escolar que a mim se apresenta e me pergunto o que Piaget, Rousseau, Vygotsky e até mesmo Paulo Freire diriam se aqui estivessem. Rousseau certamente não encontraria aqui o seu Emílio. O ideal de aluno crítico e pesquisador passa bem longe daqui. Aliás, se perdeu... Os investimentos do Estado, que são poucos e bem sabemos o porquê, se perdem porque seu alunado não quer mais nada, seu próprio alunado é quem está sucateando o sistema de ensino.

Os mestres são/estão obsoletos, não tem mais função específica, animadores de palco, praticamente assistentes da Xuxa, de tudo fazem para prenderem uma atenção que jamais terão.

Sinto que estamos vivenciando um divisor de águas único na história da humanidade. E sinto mais ainda por saber que os adultos de amanhã jamais levantarão de seus assentos para que os idosos possam sentar-se. Eu, que serei idosa, sei que terão poucos cidadãos com quem poderei conviver.

Recém formada, cheia de fé na educação, cheia de utopias e ideologias, aprendi a dar novos olhares, aprendi o quanto é importante desmistificarmos as narrativas que constituem os sujeitos. Eu, que tanto acreditei na educação ambiental com que trabalhei, vejo agora futuras educadoras tocarem copos plásticos pela janela, mesmo em meio à calamidade climática em que estamos vivendo.

A escola não serve mais para trabalhar conteúdos necessários para a vida humana. Não. Ela serve para a socialização. Sem mediadores. A escola se transformou num grande shopping. E o que é comercializado aqui não é a educação. Seja pública ou privada, a escola agora é uma grande rede de relacionamentos, com meninas mega produzidas, maquiadas, fáceis. Os meninos, mesmo depois de uma jornada fatídica de trabalho (muitos são e serão para sempre peões), vem à escola única e exclusivamente pelo prazer da caça. Muito simples, onde há oferta, há procura.

Sala de aula não é pra mim. Definitivamente não. Porque sou crítica demais para fazer de conta. Fazer de conta que ensino para meus alunos fazerem de conta que aprendem e, no final de tudo, ter de progredí-los porque o governo exige um mínimo de aprovação ou porque não quero denunciar meu próprio fracasso.

Eu, que vesti meu barrete há exatamente uma semana e aprendi a acreditar no potencial de meu aluno, seja ele qual for, estou perdendo toda e qualquer esperança que ainda tenha.

Não sei dizer onde está a falha, se está na Escola Nova, que mudou o foco do ensino e aprendizagem do professor para o aluno, ou se foi na Revolução Feminista, que tirou as mães de seus lares para competirem no mercado de trabalho, perdendo-se, aí, boa parte dos valores familiares que hoje vemos claramente faltarem em cada um de nossos jovens.

Aprendi a respeitar os mais velhos, aprendi que pedir desculpas, com licença, dizer obrigada demonstram boa educação. Me criei num sistema de ensino onde o professor era, sim, detentor de todo o conhecimento de que eu necessitava, onde se tinha medo do diretor e do tapete de tampinhas, onde a gente era reprovado, pura e simplesmente, caso não alcançasse os objetivos propostos pela escola, sem nunca ter se ouvido falar em déficit de atenção ou dificuldades de aprendizagem. Não morri por isto, estou aqui para provar. Mas temo que a minha geração seja a última com estes valores. A última geração Coca-Cola. A sociedade está mesmo preparada para isto?