domingo, 28 de agosto de 2011

A escola de faz de conta...

Estou chocada! Deparei-me com uma realidade a qual nenhum livro, nenhum polígrafo, nenhum estudo acadêmico previu que pudesse existir. A escola em nada se parece com o que me lembro dela. Nos tempos em que eu frequentava a escola, como aluna, havia respeito. Respeito ao próximo, respeito ao mestre.

Tenho me perguntado, nos últimos meses, desde que voltei para a sala de aula, desta vez como docente, onde foram parar os valores de outrora? Que fizeram com a moral, a ética, os bons costumes, que fizeram com a educação, afinal?

Tudo o que vejo é alienação. Alunos que vem para a escola predispostos a qualquer coisa, menos estudar. Entram e saem da aula quando bem entendem, atendem seus celulares dentro da sala de aula, mesmo com o professor explicando o conteúdo na frente da sala. Ficam pelo pátio, escutando músicas cujas letras são indescritíveis, fumam, batem papo como se estivessem no boteco da esquina - isso quando não o fazem dentro da sala de aula. Simplesmente ignoram a presença do professor em sala de aula.

Caso o mestre se oponha a alguma destas posturas aqui expostas, sofre retalhações, professores são ameaçados por pais, familiares e, na maior parte dos casos, pelo próprio aluno. São ridicularizados, como se fossem eles quem precisassem dos alunos e não o contrário.

Os alunos estão tão cheios de si que pensam saberem de tudo, ignoram que precisam dos conteúdos até mesmo para terem empregos melhores. Vestibular? Poucos, muito poucos pensam em irem adiante.

Fico observando esta nova maquinaria escolar que a mim se apresenta e me pergunto o que Piaget, Rousseau, Vygotsky e até mesmo Paulo Freire diriam se aqui estivessem. Rousseau certamente não encontraria aqui o seu Emílio. O ideal de aluno crítico e pesquisador passa bem longe daqui. Aliás, se perdeu... Os investimentos do Estado, que são poucos e bem sabemos o porquê, se perdem porque seu alunado não quer mais nada, seu próprio alunado é quem está sucateando o sistema de ensino.

Os mestres são/estão obsoletos, não tem mais função específica, animadores de palco, praticamente assistentes da Xuxa, de tudo fazem para prenderem uma atenção que jamais terão.

Sinto que estamos vivenciando um divisor de águas único na história da humanidade. E sinto mais ainda por saber que os adultos de amanhã jamais levantarão de seus assentos para que os idosos possam sentar-se. Eu, que serei idosa, sei que terão poucos cidadãos com quem poderei conviver.

Recém formada, cheia de fé na educação, cheia de utopias e ideologias, aprendi a dar novos olhares, aprendi o quanto é importante desmistificarmos as narrativas que constituem os sujeitos. Eu, que tanto acreditei na educação ambiental com que trabalhei, vejo agora futuras educadoras tocarem copos plásticos pela janela, mesmo em meio à calamidade climática em que estamos vivendo.

A escola não serve mais para trabalhar conteúdos necessários para a vida humana. Não. Ela serve para a socialização. Sem mediadores. A escola se transformou num grande shopping. E o que é comercializado aqui não é a educação. Seja pública ou privada, a escola agora é uma grande rede de relacionamentos, com meninas mega produzidas, maquiadas, fáceis. Os meninos, mesmo depois de uma jornada fatídica de trabalho (muitos são e serão para sempre peões), vem à escola única e exclusivamente pelo prazer da caça. Muito simples, onde há oferta, há procura.

Sala de aula não é pra mim. Definitivamente não. Porque sou crítica demais para fazer de conta. Fazer de conta que ensino para meus alunos fazerem de conta que aprendem e, no final de tudo, ter de progredí-los porque o governo exige um mínimo de aprovação ou porque não quero denunciar meu próprio fracasso.

Eu, que vesti meu barrete há exatamente uma semana e aprendi a acreditar no potencial de meu aluno, seja ele qual for, estou perdendo toda e qualquer esperança que ainda tenha.

Não sei dizer onde está a falha, se está na Escola Nova, que mudou o foco do ensino e aprendizagem do professor para o aluno, ou se foi na Revolução Feminista, que tirou as mães de seus lares para competirem no mercado de trabalho, perdendo-se, aí, boa parte dos valores familiares que hoje vemos claramente faltarem em cada um de nossos jovens.

Aprendi a respeitar os mais velhos, aprendi que pedir desculpas, com licença, dizer obrigada demonstram boa educação. Me criei num sistema de ensino onde o professor era, sim, detentor de todo o conhecimento de que eu necessitava, onde se tinha medo do diretor e do tapete de tampinhas, onde a gente era reprovado, pura e simplesmente, caso não alcançasse os objetivos propostos pela escola, sem nunca ter se ouvido falar em déficit de atenção ou dificuldades de aprendizagem. Não morri por isto, estou aqui para provar. Mas temo que a minha geração seja a última com estes valores. A última geração Coca-Cola. A sociedade está mesmo preparada para isto?


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