segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Verão


Eu gosto do verão, sempre gostei... Para mim, particularmente, é a estação da atividade, do movimento, do sair, ver pessoas, andar nas ruas, correr, passear... É a estação da vida. Amanhece mais cedo, anoitece mais tarde e isso não se deve apenas à invenção do tal horário de verão, não. É porque no verão é assim mesmo, independentemente de qualquer invenção humana. Acordar cedo é um privilégio, não um sacrifício, como no inverno.
Sei que a maioria das pessoas clama pelo inverno, fica mais preguiçosa no calor, não gosta de suar, enfim, a maioria poderia enumerar um sem fim de razões pelas quais não gostam de verão. Mas eu, apesar de tudo, ainda tenho um caso de amor com esta estação.
E isso vem desde sempre, desde que era muito pequena. Poderia explicar argumentando contra o inverno: dias intermináveis de chuva, umidade, noites mais longas que nunca podem ser de fato aproveitadas, escuridão, lá fora e aqui dentro. O inverno me remete à tristeza, o frio me faz querer hibernar como os ursos, não tenho vontade de fazer nada, apenas comer e dormir. Quando finda o mês de fevereiro, já começo a sentir uma pontinha de dor no coração, meu corpo clama pelo momento de hibernação que nunca chega e eu sofro muito por isso.
No verão, há a magia... Ouço o canto das cigarras e viajo de volta à minha infância, as tardes preguiçosas embaixo da videira, comendo goiaba do pé, fazendo a dança da chuva com as primas quando começava a aprontar temporal – como se a chuva dependesse exclusivamente da tal dança para chegar. As cigarras cantando num domingo de sol me fazem viajar no tempo, naquele tempo remoto em que eu, por nunca ter visto uma cigarra na vida, acreditava que o som maravilhoso era produzido pelas libélulas esvoaçantes, com suas asas multicores. Libélulas, borboletas, tatus-bola. Araçá, goiaba, framboesas, frutas comidas direto do pé... Os adultos tomando o bom e velho mate e nós descobrindo um mundo só nosso, onde podíamos ser quem quiséssemos ser. As uvas maduras, prontas para serem colhidas, guardadas a sete chaves. A colheita era feita por quem sabia. As belas flores de maracujá, as abelhas...
Tudo isso num tempo em que a família ainda se reunia, na mesa abaixo da videira, o churrasco, as histórias, o falatório interminável de gente. Tias, tios, primos, primas, a vó... Um mundo permeado de amor e de respeito. As tardes de verão, vendo as roupas balançarem suaves na corda do varal, com aquela brisa morna, gostosa, me fazem voltar pra um tempo que já não existe mais, um tempo ao qual meus filhos não presenciaram e que me entristece sabê-lo tão distante.
Os banhos de bexiguinha com os amigos, de mangueira e balde com os primos, até mesmo os banhos de chuva tinham um sabor todo diferente. Hoje, temos piscina, mas, ainda assim, ela não tem o mesmo valor.  Ela não promove a mesma interatividade, a mesma integração de um bom banho de bexiga.
No verão, apetece caminhar no parque, um bom pique nique com os amigos e até mesmo sentar-se à sombra de uma árvore para ler um livro. Assistir as crianças brincando alegres na pracinha, o céu azul, o colorido dos brinquedos.
E, notem, sequer falei em praia, no barulho do mar, nas caminhadas na areia. Não falei porque isso fez parte de minha rotina de veraneio pouquíssimas vezes. Mas também gosto. Gosto do barulho do mar, do cheiro de maresia, de dormir ao som do vento batendo nas árvores. Tem uma paz, um tipo específico de paz, que a gente só consegue sentir lá. Sentar-se numa duna no final de tarde, com a praia vazia e escutar, somente escutar. Sem contar a paisagem que se tem na caminhada. Na realidade, não ligo muito para as festas, baladas, etc, que essa época também oferece. Estar com os amigos é bom em qualquer época do ano, afinal.
Mas o verão é bom porque tem vida, você anda pelas ruas e encontra gente, as pessoas tem um ar mais saudável, mais feliz, mais receptivo. A magia desta estação nenhuma outra oferece, certo de que todas tem seu encanto especial, e são necessárias para que o ciclo da vida se complete. Mas o verão é único em todos os sentidos e me remete a uma infância imensamente feliz.
As pessoas que se incomodam com o calor e com o sol, sigam pedindo o inverno de volta, mas eu, eu queria que o verão seguisse o ano inteiro, com seus cheiros e sabores, pois sinto falta dele como ninguém. Faz-me um bem enorme sentir o cheiro de terra molhada nas chuvas de verão, dormir descoberta, acordar e pular da cama com vontade... Pois, tirando algumas futilidades que passam na televisão somente nesta estação do ano, penso que, no mais, é perfeito.
Entre sóis, girassóis, gatos preguiçosos deitados na pedra fresca, chuvas rápidas e refrescantes, me deito na brisa morna a sonhar que o verão um dia possa ficar, nem que seja no coração das pessoas, durante todo o frio do inverno. Que possamos carregar a alegria e a vivacidade do verão para as outras estações.

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