quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A Hora do Amor

Bom, por onde começo? Pensando bem, pelo começo... Mas onde seria esse começo? Quando eu nasci ou quando eu renasci? Difícil, bem difícil responder, porque eu renasci muitas e muitas vezes. E também já nem me lembro quando que foi a última vez em que morri... Mas sempre dói. Morrer e renascer tal e qual uma Fênix não é tarefa fácil. E nem é uma tarefa, pois não temos escolha de fazê-lo ou não. Simplesmente acontece.
Sei que quando morri pela última vez, renasci por causa dos meus filhos. Foram eles que me deram forças para, depois de queimar, ressurgir das cinzas e, pasmem, ainda mais forte... Hoje já não choro mais com tanta freqüência e não é mais qualquer coisa que me derruba. Pensei que meus problemas haviam diminuído, mas não... Na verdade fui eu que mudei diante deles. Quando digo que, a cada ressurreição, novas forças, não estou brincando.
Antes eu temia mudanças, terrenos insólitos e movediços, agora enfrento toda e qualquer novidade como uma guerreira. Se for vitória ou queda que me esperam, só o tempo irá dizer, mas já não me preocupo com antecedência e aceito as coisas como elas vem. Não é resignação. Longe disso. É força. Mas ainda estou aprendendo e ainda fico triste vez ou outra...
Hoje tenho maturidade para (re)pensar em certas coisas da minha vida. E também de assumir tantas outras. Durante tanto tempo permaneci focada em perdas, desencontros e sentimentos que hoje consigo me restabelecer e saber que é certo que ter com quem dividir as coisas é muito bom... se for a pessoa certa... Aquariana, independente e feminista – sem extremos – mas cheguei num ponto da minha vida que quero ter pra quem voltar todos os dias. Isso mesmo. Uma das coisas que a maturidade faz pela gente é ter a consciência do lado ruim da solidão.
Aqueles momentos batidos, sabem, que já foram tantas e tantas vezes descritos na história do mundo, cenas cotidianas de amores correspondidos. O estar junto porque simplesmente se quer estar junto, escolher estar ali quando se poderia estar em qualquer lugar do mundo. É acordar e dormir todos os dias com um só pensamento: a pessoa amada. Piegas. Eu sei... Mas quero isso pra mim. Tenho urgência em amar. Não. Tenho urgência em ser arrebatada por um amor que una todas as letras do Cazuza, Legião e Skank em uma mesma melodia. Uma pessoa que sinta isso por mim também e que esteja disposta a me olhar nos olhos sempre que disser que me ama. Uma pessoa que, tal e qual Henry Miller, sinta desejo por mim, independente de eu estar usando manequim 42 ou 44. Que reconheça que as oscilações em meu peso estão intimamente ligadas ao meu emocional e que esteja disposto a rir disso cada vez que aquela minha calça preferida não subir além das coxas. Porque eu volto ao 42, é só uma questão de tempo. E de comer aveia junto todo dia de manhã. Ou de ir naquele restaurante vegetariano que eu amo e que ele talvez nem goste muito.
Aquele cara que, apesar de eu me acordar todo dia cedinho de mau humor quando está frio, acorde junto e me faça rir de uma bobagem qualquer porque no fundo também não gosta de acordar cedo no frio e entende a razão do meu estado de espírito, mas nunca vai me falar isso. Uma pessoa que fique me olhando do nada, mesmo quando estou apenas escovando os dentes ou tomando café. Que me penetre com seu olhar, que me desvende, que me suporte. O homem que eu quero pra mim não pode ter medo de me enfrentar, principalmente quando eu me perco de mim mesma. É aquele que vai me segurar para que eu não caia em meu abismo, mesmo tendo de se preocupar com seus próprios abismos.
Não precisa ser perfeito, tenho consciência de que muitas vezes magoamos aqueles que mais amamos, pode ter barriguinha de chopp e tudo o mais. Não espero um deus grego. Mas tem de ser bonito na alma. Tem que ser bondoso e se compadecer com as injustiças como eu me compadeço. Aquele cara que vai trazer da rua os gatinhos que vir abandonados porque sabe que é isso que eu faria. O homem que vai me acompanhar nos domingos nas ruas pra dar comida aos cachorros de rua.
A cor dos olhos não importa desde que me reconheça dentre as milhares de possibilidades que sabe que existem. Que o brilho no seu olhar seja mais forte quando estiver olhando pra mim. Que seja capaz de desviar os olhos da televisão mesmo assistindo ao jogo decisivo do seu time, só pra me olhar. Mesmo que eu esteja apenas deitada na cama com os gatos, ou ocupada com os afazeres domésticos, com a “roupa de ficar em casa” e o cabelo desfiado preso em uma piranha ou um lápis qualquer.
Espero por aquele que irá preencher lindamente meus dias, que vai se preocupar com o horário que eu chego em casa e que, vez ou outra, irá até o meu trabalho para me buscar, não porque desconfia de mim, mas porque fica aflito esperando por notícias de minha volta segura pra casa e quer garantir que irei chegar bem. Uma pessoa que vai mandar mensagens de bom dia e de boa noite todos os dias. Que não vai ter medo de admitir que pensa em mim o tempo todo até para os seus amigos.
Tenho esperado por ele em todos os lugares. Tenho esperado encontrá-lo em toda a parte. Seja num dia ensolarado de verão, seja num dia chuvoso de inverno, que venha de mansinho, que venha pra ficar... E que seja infinito por todos os dias em que durar...

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