Como em todo final de ano, faço uma longa reflexão acerca do ano que finda... Não acredito que a passagem de um dia para o outro, um ano para o outro possam trazer grandes mudanças, por isso, costumo dizer que, além da desculpa de estarmos junto daqueles que amamos nestas datas festivas, não há nada demais, são dias como quaisquer outros. Mas, apesar disso, não deixa de ser uma etapa que tem seu fim... Gosto de pensar sobre os acontecimentos que me marcaram e/ou ressignificaram ao longo de determinado período... às vezes escrevo sobre, outras não há muito o que escrever, o que compartilhar...
Beirando os 40 anos, estou mais sensível diante de algumas coisas e completamente insensível diante de outras... É isso mesmo, dicotômico e fascinante... Outro dia disse que minha conta bancária me faz mais triste do que as pessoas que vou perdendo ou que se perdem de mim no caminho, e é isso mesmo. Sou uma pessoa que há muito tempo tem trabalhado demais... E, muitas vezes, não conseguir ver o resultado deste trabalho me é frustrante e desesperador. Muitas vezes me peguei pensando se a vida se resume a trabalhar e pagar boletos (já que emagrecer eu desisti já faz tempo...)
A verdade é que minha alma clama por uma liberdade que já faz muito tempo que não sinto... O trabalho, as obrigações, os horários (esses últimos confesso que até hoje ainda não consigo lidar) me tolhem e muitas vezes apagam o que há de melhor em mim... Mas, segue o barco... Tem de seguir...
O ano de 2016 foi um pesadelo. Remei, remei, paguei meu apartamento aos trancos e barrancos e contei com a ajuda de muita gente amiga para manter pelo menos isso. Comi muito pão com margarina, muito mesmo! Não tenho vergonha de dizer. Passei necessidades inenarráveis, mesmo trabalhando 60 horas semanais, às vezes até mais. Mas, tive algumas presenças importantes de volta a minha vida, enquanto outras partiram, pra nunca mais voltar, por escolha minha. Enfim, poderia dizer, fazendo um balanço, que 2016 foi de muito mais baixos que altos, por assim dizer. Remei e morri na praia.
Por conta disso, apostei todas as minhas fichas no ano de 2017. Todas mesmo. Ano ímpar, virada de ano de vestido branquinho, calcinha amarela, como manda o figurino... Aquela virada de ano que era pra ser acampando, na cachoeira, acabou numa reuniãozinha discreta entre poucos amigos, mas que eram significativos. Iniciei o ano trabalhando, sem férias, curtindo a carga horária reduzida de três turnos para um, com muitos momentos de piscina, família reunida e vendo o milagre da vida acontecer no meu sobrinho, que cresce e que posso presenciar, admirar e curtir esse crescimento, com muito amor.
Desisti, depois de muito sofrimento e luto, de remar pelo meu apartamento. Essa desistência me trouxe, de certa forma, leveza para minha existência e comida para a minha mesa. 2017 foi um ano com menos pão com margarina e mais pizza. Apesar da tristeza e das muitas noites em claro que essa decisão me trouxe, das incertezas, das angústias, acabei vendo que havia optado pelo melhor... Não passar fome foi uma grande conquista de 2017!
Depois, adoeci, tive problema sério de coluna (que ainda está aqui, que ainda dói vez ou outra, mas me fez entender os limites do meu corpo...), participei fortemente e ativamente do movimento de greve da minha categoria, pois não tinha como me calar diante da injustiça cometida por este governo. Fiz novas amizades, sorri, chorei, muitas e muitas vezes duvidei de mim... Mas aqui vão alguns dos aprendizados que tive no ano de 2017:
1) Não importa o que você diga ou faça, sempre haverão pessoas que não gostarão de você e te julgarão mesmo sem te conhecer;
2) Você pode ser bom e dócil durante 99% do tempo, mas, é justamente aquele 1% de descontrole e ódio que falará mais de você aos outros, principalmente para aqueles que não conhecem a sua essência;
3) As pessoas não te amarão da mesma forma que você as ama, conforme-se e aceite;
4) Se não está feliz e satisfeito em algum lugar, movimente-se para sair dele, pessoas e lugares também tem o poder de nos adoecer, então, depende de nós não permitir que isso aconteça;
5) As pessoas, mesmo sendo de nossa família, também podem nos fazer mal. Cuidado com relações abusivas! Pode ser filho, pai, mãe, irmão, irmã, lembre-se sempre de impor os limites necessários para que o outro não possa te fazer mal. E não se sinta mal se tiver que evitar contato. Nunca anule-se em nome do outro;
6) Relação afetiva é aquela que cuida de você e te aceita exatamente do jeito que você é. Desconfie de pessoas que só te procuram quando se esgotaram as outras opções. Você não merece ser segunda, terceira, quarta opção de ninguém! Caso não te coloque em primeiro lugar, saia fora e não olhe para trás!
7) Ainda falando de relacionamento afetivo, lembre-se de que todo relacionamento é via de mão dupla. Se você sentir que está dando mais do que está recebendo, sinal vermelho! Não se sobrecarregue em nome de ter alguém do seu lado. E também observe os pequenos gestos que muitas vezes significam tanto. O cara que limpa teu óculos sem você pedir é alguém que realmente se importa contigo! Pensa nisso!
8) Respeite teus momentos. Eu costumo dizer que sou feita de fases, acho que todo munto é, mas nem todo mundo entende isso... Não adianta você se dispor a engatar um relacionamento se estiver numa fase de "fubangagem". Assim como não adianta sair dando para todo mundo se teu corpo está pedindo sossego. Nesse viés o autoconhecimento é muito importante, pois não precisamos saber o que queremos quando sabemos o que não queremos;
9) Cuidado com as amizades. Nem sempre é recíproco. Assim mesmo como consta no item 3 deste texto. Por isso, não demonstre suas fraquezas para qualquer pessoa e tampouco conte segredos, não dê ao outro o poder de te destruir caso alguma coisa dê errado;
10) Ainda falando de amizade, mas agora com relação às mulheres especificamente... Sororidade é algo que nem sempre é compreendido e/ou aceito. Muitas vezes as pessoas pregam sem saber o que realmente significa e muitas, muitas vezes, o senso de competitividade fala mais alto. Nem todo mundo fica feliz com o teu sucesso, nem todo mundo está do teu lado por gostar de ti e nem todo mundo mostra sua verdadeira face;
11) Mantra que carrego para a vida: "mantenha teus pés no chão quando tua cabeça estiver nas nuvens!" Não importa o tamanho da tua conquista, não importa o quanto você cresceu frente às adversidades, não importa se conseguiu realizar um grande sonho ou se ganhou na mega... Mantenha a humildade sempre! Jamais humilhe outra pessoa que não está no mesmo patamar que você, mesmo que você tenha conquistado com muito suor e lágrima. Lembre-se que quanto mais alto você subir, maior será sua queda.
12) Não menos importante que a anterior, ser humilde não significa deixar que os outros pisem em você. Jamais! Só você sabe das tuas batalhas e só você sabe das tuas dores. Não abaixe a cabeça para aqueles que querem o teu mal. Dignidade e respeito por si próprio são tão importantes quanto a humildade;
13) Opinião é diferente de discurso de ódio. Entenda que gostar de azul ou de vermelho nunca será como dizer que uma mulher merece ser estuprada ou manter um discurso fascista acerca da realidade que vivemos. Segregacionismo, racismo, misoginia, homofobia, xenofobia e outros não são opinião. Dispense pessoas que tem esse discurso, elas jamais agregarão nada à sua vida;
14) Feminismo é luta por igualdade de direitos. Primeiro porque é fato que ainda não gozamos dos mesmos direitos dos homens e segundo porque o machismo ainda mata - e muito!
15) Conhecimento é muito importante para se ter liberdade, dignidade e, principalmente, discernimento. Leia, leia muito, pesquise, escreva, produza. Não atenha-se apenas ao óbvio. Vá além! Não se baseie no senso comum propagado nas redes sociais. Leia! Coloque um objetivo de tantos livros por ano. Muito mais importante do que fixar um objetivo de perder tantos quilos... Lembre-se sempre: beleza vai embora, inteligência e abstrações serão teus para sempre!
16) Faça o bem, engaje-se em alguma causa, devolva ao universo somente o que deseja receber... Seja a causa animal, seja moradores de rua, crianças abrigadas ou asilos... Tem uma frase de um desenho que eu gosto muito: "Viu a necessidade, atenda!" (Robots, 2005, Twentieth Century Fox Animation). Lembre-se de que, mesmo podendo fazer pouco, ainda assim é muito nesse mundo individualista. Enfim, seja uma pessoa boa!
Em suma, mantenha sua essência! Não importa se isso te custará empregos, relacionamentos, status, amizades e pessoas da família. Na hora da dor, na hora do choro, é você com você mesma. Assim será na hora da tua morte. Nascemos sós e morreremos sós, essa é uma das grandes verdades ditas pelo grande Bukowski. Não importa quantas e quantas vezes você terá de quebrar e catar teus cacos, um a um, não importa quantas vezes irá receber o não como resposta, não importa quantas vezes você mudará ao longo do processo. Vai doer? Vai! Mas jamais perca a oportunidade de ser você mesma, de acreditar em você e no teu potencial e, principalmente, de amar-se acima de qualquer coisa.
(Foto meramente ilustrativa do amor que tenho por mim, mesmo sendo uma fodida e, considerada por muitos, inclusive pessoas da família, como fdp e fracassada!)
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