terça-feira, 10 de julho de 2012

Relatos de uma criança

Oi...
Com licença...
Tudo bem?
Quero falar com vocês...
Eu? Eu sou tantos nomes... diferente, diferenciado, deficiente, especial, inclusão...
Mas, por favor, vamos fugir da formalidade, apenas me veja como um alguém e não se dê ao trabalho de me julgar...
Confesso que é muito difícil para mim estabelecer essa relação de troca... Por vezes eu não escuto, por outras não te vejo, às vezes nem te entendo e nem falo contigo... mas eu sinto... será que sinto?
Não sei se sou ameaçador ou ameaçado, por hora nem consigo separar o "eu" de "você"...
Eu sou aquele que muitas vezes "atrapalha" o teu plano de aula, aquele que te faz ficar horas pensando: " - O que eu faço com ele?"
Pois é... você acha que eu sei o que fazer comigo mesmo?
Você acha que sei como me silenciar quando eu tenho meus "ataques"? Você acha que eu sei o que estou procurando quando saio correndo pela escola? De repente eu esteja procurando por mim mesmo ou por você...
Você acha que eu sei como te conquistar, sendo que você nem chega perto de mim, não compreendo as tuas atividades, não acompanho o teu raciocínio, então como eu posso me tornar o teu aluno preferido? Por muitas vezes tu te considera despreparada para me receber, mas tenha a certeza de que não estás a sós...
Pois, você pensa que minha cadeira de rodas voa sobre as escadas, vocâ acha que leio pensamentos, quando não possuo audição?
Será que consigo me expressar em sinais quando ninguém presta atenção em mim? 
Como me incluir, ou me integrar, onde todos me consideram "o estranho"?
Por favor, que eu não lhes faça sentir pena, pois isso é terrível...
Eu desorganizo as estruturas, sim, pois estou desestruturado. Eu te assusto porque sou singular, entretanto esquecemos que todos somos singulares... porém a minha singularidade te causa imobilidade, impotência...

E é isso que falta...
Fechar os olhos do preconceito e encarar que É NORMAL SER DIFERENTE!!!
Eu preciso que me olhem por completo, além de minhas limitações, muito além das minhas dificuldades...
Não trace esplêndidos objetivos pedagógicos para mim... quem vai se frustrar é você... é óbvio que não vou atingí-los!
Me trate como aos demais, não se afobe, não se estresse, não se iluda e por favor não me trate como um ratinho de laboratório para ficar testando em mim todas as fórmulas encontradas!
Preciso de apoio, minha auto estima por vezes é tão rebaixada, que preciso de ajuda para constituir-me! Veja tudo o que eu consigo fazer e deixe um pouco de lado o que eu não consigo...
E, por favor, seja meu (minha) amigo (a)... e me dê a mão para que possamos ir juntos, lado a lado, nessa aventura que se tornarão os nossos dias, você me ensina como sabe e eu te mostro como entendo... e se muitas vezes eu nem estiver na sala, eu estou por aí, desbravando a escola, e eu sei se te faço falta ou não...

Me desculpe os transtornos e se algum dia eu "torrar" toda a sua paciência, te bater, te morder, fugir de você, por favor... Não vire as costas para mim, não seja mais uma a me considerar incapaz, me corrija, assim como a todos os alunos, me traga para o mundo escolar. As dúvidas surgirão todos os dias e, se um dia não souberes mais a que livros recorrer, faça como eu...
Feche seus olhos, pense em mim, não importa quem eu seja, e que deficiência eu te apresente, só pense em mim... e ouvirás uma vozinha bem fraca, que aos poucos irá aumentando dentro de você... É o seu coração. confie nele, pois ele conhece todas as verdades, pois dele veio a alma do mundo e um dia retornará a ele!

Obrigada pela atenção!

Que consigamos dar olhares diferentes para a diferenças que encontrarmos em nossos caminhos, que nossos corações possam abrir-se ao novo, sem medo do desconhecido, pois só assim conseguiremos coexistir com nossos semelhantes neste e nos próximos mundos. Estejamos preparados!

Carina, 10/07/12.




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