sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Sobre a solidão e outras drogas

Outro dia estava refletindo a respeito de uma citação de Bukowski, dentre tantas com as quais me identifico, esta tem se sobressaído nos últimos dias: "Cada um de nós está, no final, sozinho." Existem muitas "visões", inúmeros conceitos acerca da solidão, alguns positivos e outros negativos, particularmente acredito que todos estejam certos...
Algumas pessoas creem que ninguém poderá ser feliz com o outro se não souber ficar em paz consigo mesmo. Fato. Solidão é autoconhecimento. São os momentos em que nos recolhemos que podemos avaliar de forma profunda o que sentimos e como nos sentimos frente a determinadas situações. São nos momentos em que nos permitimos cuidar de nós mesmos, meditar, ler, desligar... E, afinal de contas, como curtir outras companhias se não conseguimos curtir a nossa própria companhia? Eis uma questão para refletirmos. É o lance de ser completo e não metade. Não esperar pela "metade da laranja" e nem por alguém que possa preencher os espaços vazios. É ser inteiro e querer outro inteiro que venha somar...
Mas, em contrapartida, há o outro lado, como tudo na vida. Como na célebre frase do Buk, a consciência de estarmos sós por vezes pesa demais. Eu sempre acreditei que somos muito sozinhos em nossos sentires. Exatamente pelo fato de que ninguém, nunca, sob hipótese alguma, irá sentir algo como sentimos. Pessoas podem passar pelo mesmo fato, seja ele qual for, mas a forma com que este fato irá impactar ambas será diferenciado, pois nossos sentimentos estão intimamente ligados à forma com que nos constituímos. Somos únicos. Isso faz com que sejamos sozinhos. 
Eu, particularmente, tenho um encantamento e um certo medo deste abismo que me separa dos outros. Vez ou outra, me jogo nele, nesse instinto que tenho de subverter o sistema, de sentir tudo de uma forma insuportavelmente profunda. Caio, enfrento a escuridão, tento me agarrar às beiradas, debato-me e sangro, quando, por fim, antes de alcançar o chão, consigo voar... Outras vezes, simplesmente contemplo o abismo. Sento-me na beira e olho dentro dele. Dá medo. Muitas vezes fico com um medo enorme de nunca mais encontrar alguém que tenha por mim mínima empatia para conseguir caminhar ao meu lado. Mesmo tendo a plena consciência de que, no final das contas, somos nós, com nós mesmos, até mesmo para os acertos de contas. Somos nosso próprio paraíso e nosso próprio inferno.
Outra pessoa não muda isso. Mas, ainda assim, ainda esperamos por alguém. uma pessoa que possa minimamente aproximar-se de nossos sentires, ou que simplesmente nos acolha quando não pudermos mais suportar sentir. Aquela pessoa que, não, não irá nos tirar da solidão, mas que será única e sozinha junto. E, enquanto esse ser não aparece, se é que algum dia irá aparecer, vamos buscando nos acostumar com nossa própria companhia, procurando não olhar muito no relógio e perceber o arrastar-se dos dias, para não termos de contabilizar quanto tempo ainda teremos de esperar... 

Um comentário:

  1. Abismo maior tem quem ainda não encontrou o seu próprio na vida. Texto forte e impactante

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