Gatos pretos... Todos conhecem o mito que há por trás de todo o gato preto... Seres mágicos por natureza são todos os felinos, mas o gato preto guarda o mistério de todas as coisas. Não, não me refiro ao azar. Mas me refiro à magia. Os gatos pretos são portadores de todos os desconhecidos deste e do outro mundo. O Sr. Frodo nunca fora diferente...
Lembro-me do dia de sol em que o vi na gaiola, numa petshop que nem existe mais, numa esquina movimentada da cidade... Eram ele e a irmã, negros como a primeira hora antes de amanhecer. Eu o quis desde o primeiro momento em que o vi. Já tinha tudo preparado em casa para recebê-lo, comida, areia, amor e um nome... Frodo.
Levei-o para casa e ele, estranhando o lugar novo, ficou dois dias inteiros embaixo da estante da sala miando... Pensei que nunca sairia de lá. Em algum momento deve ter saído para comer ou tomar água, mas o fizera escondido. Desconfiava ainda de tudo, mas já era muito amado, antes mesmo de ter chegado. Foi um gato planejado. Sim, isso mesmo. Como fazemos com os filhos, eu planejei tê-lo.
Quando tive de me desfazer da Lilith outrora, por causa das velhas mentiras sobre toxoplasmose e tudo o mais, esperei anos e anos o momento certo de ter um gato outra vez. Filhos crescidos, trabalho à vista, comecei a me articular. Ia, finalmente, ter um gato.
Ele fora especial desde o momento em que coloquei o olho nele. Pensei: "Nossa, o verdadeiro gato de bruxa!". Quisera ter ficado também com a irmãzinha dele, mas não tinha muitas condições na época de adotar mais um.
Depois do Frodo, vieram outros... Ele sempre foi amigo de todos, passado o período normal de adaptação. Elfo foi o primeiro, depois o Mustapha. Depois o Kowalski e o Sr. Rudolf com quem ele conviveu.
Frodo era um gato que vinha no colo. Parecia reconhecer meus momentos de tristeza e me acolhia em sua força. E foram muitos. As brigas antes da separação, o fim do casamento, a adaptação em casa nova, aliás, mais de uma vez.. Ele suportou calado, sempre ao meu lado, sempre no meu colo, sempre, onde quer que eu estivesse, seu ronronar manso me acompanhava e acalentava.
A última mudança não foi fácil para ele, pois saímos de um apartamento para irmos a outro que era praticamente a metade do tamanho. Ele e Kowalski, apesar de castrados, começaram a disputar território e se machucarem... Tive de tomar uma decisão que em nenhum momento foi fácil para mim, mas, enfim, precisou ser feita.
Doei o Frodo para uma pessoa com a qual ainda teria contato, poderia vê-lo sempre que quisesse, ele ganharia a liberdade que tanto amava e seria feliz no novo lar. Mas, nos primeiros dias, ele sumiu. Era como um protesto, acho eu, depois de tantas e tantas tempestades pelas quais passamos juntos, mais essa... Fiquei desesperada, mas, depois de três dias, ele finalmente reapareceu e acolheu o novo lar. Tive oportunidade de vê-lo ainda muitas vezes. As entradas furtivas dentro da casa, as sonequinhas que tiramos em meio a tardes frias, ainda eram possíveis e palpáveis. Mas então ocorreu um afastamento inevitável e fiquei tempo sem vê-lo... Coisas da vida...
A notícia de sua morte me arrebatou. Mexeu comigo de um jeito que não tem explicação. Enquanto eu chorava e me culpava por não ter dado um último adeus, passava um filme em minha cabeça... O filhotinho que peguei da gaiola, que adorava caixas de leite e que espiava a gaiola dos passarinhos inocentemente. O gato adulto que fugia à rua sempre que dava, que voltava todo machucado e que se enfiava em meus braços arrependido, sempre com a promessa de não fazer mais, mas, assim que melhorava, lá ia ele de novo... Todas as vezes que dormimos juntos, que adormeci com o ronronar mágico em meus ouvidos, todas as vezes em que ele se sentava no banheiro e esperava pacientemente eu sair do banho. As caças trazidas, o pedaço de pão roubado ou dividido. O miado estridente que soava na porta na volta para casa...
Difícil dimensionar a dor que causa a perda... Porque cada um deles é único, como nós também somos... Impossível substituir por outro, mas o outro acalenta a dor da perda, apazigua o coração sofrido e transforma as lágrimas novamente em sorrisos.
Sr. Frodo, que por certo se juntou à escuridão da noite, com seu pelo brilhante e olhos amarelos cor de ouro, que você esteja feliz neste outro plano, que tenha muito espaço e bolas com guizo para você brincar. Espero que olhes por mim aí de cima e carregue consigo a certeza de que tudo o que fiz por você foi por amá-lo demais. Vou viver a partir de agora com a certeza do reencontro e que você, Mustapha, Elfo e Lilith devem estar fazendo parceria nas correrias e brincadeiras e que certamente estarão me esperando chegar.
Sentirei sempre a tua falta e o lugar que você ocupava em meu coração será para sempre teu, que a noite te guarde e que você esteja comigo sempre que eu estiver no escuro. Te amo e sempre te amarei, meu filho lindo. Vai em paz!
Para aqueles que não gostam de gatos e que não sabem lidar com a independência e autonomia deles, vai o meu lamento. Gatos são parceiros inestimáveis, são seres que nos ensinam milhares de lições todos os dias. Sou grata aos deuses por terem me dado a oportunidade única de ser amada por eles e de ter todo o respeito e admiração por esta espécie única que é a felina. Logicamente vocês jamais entenderão as minhas palavras e os meus sentires neste momento, por certo acharão exageradas e sem noção. Deixo a vocês um recado: não comentem e não demonstrem sua falta de compreensão, pois não preciso disso neste momento. E, sim, eles são como filhos, meus filhos se criaram como irmãos adotivos deles e exatamente por isso que tem o maior respeito por eles também. É com eles que gasto meu tempo e meu dinheiro, sim e sua crítica com relação a isso não fará com que eu mude... Obrigada pela atenção e por ter lido até aqui, mesmo não gostando de gatos!
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