sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Sobre o amor em tempos de Tinder

Nunca escolhi livro pela capa. Nunca mesmo. Tudo que li ou foi por indicação, ou por pressão(professores na faculdade, essas coisas). No entanto, escolhemos o amor pela aparência. Sim, isso mesmo. Aceitamos ou descartamos pessoas de acordo com a foto que elas mostram no perfil. E muitas vezes nem nos damos o trabalho de abrir para ver as outras fotos. Classificamos seres humanos: este é muito gordo, muito velho, muito bombado, huuummm, 38 anos e sem filhos, escreve errado, etc, etc, etc. 
Pessoas que tem um rosto, que podem ou não ter algo escrito em seus perfis, mas que, de toda e qualquer forma, suas almas desconhecemos por completo, suas histórias, suas lutas. Muito já foi escrito sobre a nossa geração que tem um vasto cardápio à sua disposição e que, exatamente por isso, não se predispõe a consertar relações, simplesmente manda vir o próximo da lista.
Isso é o que chamamos de conquista? Esse esvaziamento de significados e de significantes? Eu acho muito triste. Sim. Triste. Não há outra palavra que defina. Tudo muito fugaz. Você descobre alguém que tem algo em comum com você, engatam um relacionamento aparentemente feliz, com muitas fotos de passeios maravilhosos, jantares, momentos a dois, publicadas nas redes sociais e, de repente, está se vangloriando por estar novamente solteiro. Ninguém mais vivencia o luto pelo outro que foi embora. Ninguém mais chora por amor. Depois do fim, a volta ao Tinder, a volta à busca e a roda gira de novo. 
Há quem virá dizer que é só sexo. Ok. Sexo sem amor, sem compromisso, sem intimidade. Oi? Eu disse sem intimidade? Sim, disse. E é isso mesmo. Se alguém aí conhece alguém que faça sexo bom, daquelas fodas épicas, sem intimidade, dou um prêmio. Porque sexo, meus amigos, a meu ver, melhora com o tempo. Quando a gente começa a conhecer as vontades e manias do outro e também - e não menos importante - quando a gente se conhece e sabe bem o que quer na cama. E não é lição de moral. Mas a verdade é que hoje a preocupação é bem maior com a quantidade do que com a qualidade. 
Vou dizer que não tenho moral para dar lição de moral. Estou no Tinder, também classifico as pessoas, também analiso pela aparência, afinal, não há muita coisa além disso para analisar em um primeiro momento. Mas, gente, beleza atrai, conteúdo convence. Sei que dá medo se envolver com alguém, sei que o amor, a paixão, machucam, mas, resumir a vida a casinhos rasos não pode ser o maior objetivo. Todo mundo precisa de sexo. Isso é fato. E nós, mulheres, hoje podemos dizer isso com todas as letras, também precisamos, também gostamos. Mas não pode ser só isso. 
Particularmente falando, sempre que dou "Unmatch" fico me perguntando se ali não estaria uma pessoa bacana que perdi de conhecer. Nossa arrogância está nos fazendo perder o pouco que nos resta de humanidade. Estamos nos perdendo uns dos outros. Perdendo oportunidades únicas de fazermos amizades, de termos parcerias constituídas com pessoas que podem ser especiais. Estamos abrindo mão de histórias. Pra contar. Pra viver. E, todos os dias, tenho me perguntado onde vamos parar se a carruagem seguir desta forma...
Pode parecer clichê, mas, de tudo o que já foi dito, escrito sobre a geração Tinder, espero que fique um prenúncio de esperança para as próximas gerações. Que eles sejam capazes de reconhecer o amor, mesmo que de maneiras meio tortas. E que, apesar de "se divertirem com as pessoas erradas, enquanto as certas não aparecem, possam se encantar com as coisas que a vida nos traz e que, muitas vezes, não conseguimos perceber, perdidos em nossa ânsia em evitarmos todo e qualquer sofrimento.

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