sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Coisas da Vida

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo,
já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo,
já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida,
já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono,
já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos,
já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram,
já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou,
já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois,
já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava,
para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza,
já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar,
já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns,
outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns,
já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça,
apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz
para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro,

Hoje no escuro,"me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer,
já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas
para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo.
Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre
foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual,
porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras,
não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das idéias mais insanas,
dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!


(O último trecho integra uma poesia de Clarice Lispector, o restante, não sei dizer se ainda faz parte de sua obra ou não)

Lembro-me bem quando recebi um PowerPoint que continha este texto, passei umas duas horas copiando-o à mão para digitá-lo mais tarde em um arquivo do Word. Minha intencionalidade era colocá-lo em meu perfil do Orkut, tamanha empatia que senti ao lê-lo. Mas, eis que a pessoa que havia mandado tal e-mail para mim teve a ideia antes de mim e então tive que guardá-lo para mais tarde. Mas é incrível ver o quanto este texto tem de mim... Aliás, tem um pouco do cotidiano de cada um de nós ali. Enquanto o lia, vi passar em minha mente o filme de minha vida, os tantos amores, que sempre pensava que seriam os únicos e os últimos; as incontáveis decepções que tive com pessoas que me eram tão queridas e em quem acreditei... as vezes em que corri atrás do carro do meu pai para que ele não se fosse, os momentos em que chorei por minha mãe e ela não estava lá... Quanta coisa escrita ali que me remete diretamente ao que eu fui, ao que eu sou hoje, a minha história, o que me constituiu como pessoa... Por fim, no trecho da Clarice, a intensidade, a autenticidade, aquilo que sou, que sempre fui, minha natureza contestadora e indomável, fora de qualquer padrão pré-estabelecido, estou em algum lugar do mundo em que fico de fora de todo o resto... O abismo das convenções nos separa. Eu, de todo o resto. Assim mesmo, meio Lilith, sou diferente e ponto. E tem horas em que esta solidão não me afeta tanto, tem horas que é bom estar aqui neste lugar em que habito, e sou eu mesma, mesmo sabendo o preço que pago, que sempre paguei por isso. Lilith fora expulsa do paraíso, eu sou expulsa de onde?

Carina, 03/12/2010

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