Falar numa despedida é muito difícil, mas, quando nos despedimos de um amigo, fica quase impossível descrever em palavras o que e como sentimos... Estes dias falei sobre a finitude das coisas em um outro local, no quanto estarmos preparados para as perdas nos faz mais fortes, mas há perdas que preparo nenhum consegue diminuir a dor...
Hoje pela manhã senti falta de um dos meus felinos, antes de sair para trabalhar... Procurei-o por toda parte, em vão. A única coisa que permanecera aberta durante a noite foi a janela, então, bateu um desespero quando me deparei com a possibilidade de ele ter caído e ter sido pego pelo cachorro, ou ter sido levado embora como outros já foram. Saí na rua para buscá-lo, em vão. E, assim, sufocando a dor que isso me causou, saí para trabalhar, guardando ela lá no fundo, pois ainda me restava uma esperança de que ele aparecesse durante minha ausência. Cheguei em casa e nada... e a dor se intensificou, abriu caminho aqui dentro e irrompeu...
Sei que parece bobagem, aos olhos de algumas pessoas realmente pode ser... Mas, para mim, que, em primeiro lugar, tenho uma relação de amor com a natureza como um todo e que, em segundo lugar e não menos importante, considero os meus bichos parte da minha pequena família, isso me afeta como se eu realmente estivesse perdendo alguém muito próximo, que deixará espaços vazios difíceis de serem preenchidos.
Reconheço em cada um deles suas personalidades, cada um deles tem um jeito próprio de se relacionar com as pessoas e com o ambiente em que vive... Rudolf era arisco... Procurava colo poucas vezes, mas sempre estava ao meu redor, onde quer que eu estivesse. Se estava no computador, ele se deitava sobre a tela, se ia tomar banho, ele deitava sob o tapete do banheiro e algumas vezes se arriscava a adentrar o box para tomar água, se eu ia estender roupas na área, era o momento que ele aproveitava para usar o seu "banheiro". Ficava sozinho e miava pela casa, como que dizendo que a solidão não o acalentava... Precisava e gostava de companhia, mesmo que fosse apenas de longe... No dia a dia, era o parceiro do Kowalski para tudo, tinham noites que os dois passavam a madrugada inteira correndo pela casa, brincando...
Agora ficam os espaços vazios, como outrora já disse que ficam quando alguém que amamos vai embora, os espaços vazios e as lembranças... Difícil descrever a dor que isso causa, é inominável. Terei 10.000 gatos e cada um me fará sofrer igual, cada um deixando um espaço vazio diferente do outro, mas sempre deixando... Escrevo essas palavras com lágrimas nos olhos e sei que elas permanecerão por dias, longos dias, enquanto eu olhar para os lugares que ele gostava, enquanto as lembranças ainda estiverem tão vivas que quase poderei tocá-las... Tenho o Kowalski e tenho o Sr. Frodo, mas em nada a falta do Rudolf será compensada, pois cada um é um, suas subjetividades são muito diferentes e o modo de se relacionarem comigo também.
Outro dia eu disse que ninguém é insubstituível... Hoje revejo minhas palavras e vejo o quanto alguns seres o são em nossas vidas... Em outubro do ano passado perdi meu Mustapha e fugi de casa, literalmente, pois não sabia como seria voltar e ter de lidar com os espaços vazios que ele deixara... Hoje eu tive de voltar, voltar e ver a tela do computador vazia, o ar triste e o Kowalski desolado... O Luan, meu filho, na rua procurando, mesmo que a esperança se desfaça um pouco mais a cada investida... Vou ter de lidar com isso. Porque é assim que os adultos devem lidar com a dor: enfrentando, não fugindo. Embora toda uma parte de mim queira esvair-se e entrar numa concha, virar uma ostra... Quero ir embora, quero novas lembranças, quero consolo pro que eu estou sentindo... mas sei que não há... Então me resta sentir, chorar e esperar que a dor vá virando uma saudade e que a saudade vire nostalgia e que um dia eu possa olhar para as lembranças sem lágrimas nos olhos...
Que a Grande Mãe te carregue em seus braços, meu amor, e saibas que, onde quer que você esteja, você foi muito amado por esta família! Luz e paz...
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