quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Meu lugar não é aqui

 


Tenho pensado muito sobre o tempo... Escrevi sobre ele outro dia e o quanto tem me atravessado nestes dias em que tudo parece parado, em que os dias parecem todos iguais... 

Outro dia li um texto que dizia que o tempo não passa, afinal, ele é eterno. Nós é que passamos por ele. Faz sentido. O tempo sempre esteve e sempre estará aqui. Nós não. Um dia voltaremos pra casa, como costumo dizer...

Biologicamente, nossas células já iniciam o processo de envelhecimento desde o momento em que nascemos. É a boa e velha pergunta: "cada dia que passa, desde então, é um dia a mais ou um dia a menos?"

Eu, autêntica aquariana, desde criança, rebelde, do contra, com certa inteligência acima da média, comecei a perceber que, não importava o que eu fizesse, eu simplesmente não me encaixava... Eu era literalmente "o pino redondo nos buracos quadrados"... 

Lugar nenhum no mundo me acolhia... Nem minha casa, nem a escola, nem a casa da minha vó, embora lá os verões tenham sido mágicos na minha infância... 

Essa sensação perdurou durante toda a adolescência e, com ela, uma vontade doida de voltar pra casa. Na vida adulta, às vezes sinto que se agravou esse sentimento.

Acabei comprando muitas brigas pra tornar esse mundo mais "habitável", não só pra mim. Levantei bandeiras da inclusão, da justiça social, da proteção animal. Encontrei nessas lutas uma razão para, pelo menos tentar, tornar o mundo o lugar acolhedor que sempre buscara...

Mas a questão é que não sou mesmo daqui. Isso às vezes me alivia e outras vezes me assusta. Alivia porque vejo que não estou caminhando junto a essa parcela da sociedade doente e que adoece os outros. Assusta porque, se não é aqui minha casa, e de tantas pessoas que andam comigo na contramão do mundo, pra onde iremos? Onde estaremos a salvo? 

A consciência de que nada é, tudo está, porque o tempo não nos atravessa, nós é que o atravessamos faz com que às vezes eu me sinta tão só... A consciência da finitude de todas as coisas ou, como diria o Dom Juan, de Castaneda, o que diferencia o guerreiro de um homem comum é a consciência de sua morte. 

Vivemos tempos estranhos. Não, não sou daqui. Muita gente não é. E muita gente tem voltado pra casa nesses dias tristes. Eu, hoje, quero ficar mais um pouco nesse lugar estranho porque o que se aponta, logo ali, na frente, é um futuro cheio de vida, cor, ancestralidade. Quero viver pra ver isso. Sentir. Sorrir e chorar. Depois, estarei pronta pra voltar pra casa. 

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