"Eu a amo, de corpo e alma. Ela é tudo para mim. E no entanto não se parece em nada com as mulheres sonhadas, aquelas criaturas ideais que eu adorava quando menino. Não corresponde a nada que eu tenha concebido na profundeza do meu ser. É uma imagem totalmente nova, algo estranho, algo que o Destino roubou de alguma esfera desconhecida para lançar no meu caminho. Olhando para ela, amando-a pedacinho por pedacinho, verifico que a sua totalidade me escapa. Meu amor se acrescenta como uma soma, mas ela, a mulher que procuro com um amor desesperado e faminto, me escapa como um elixir. É completamente minha, de uma maneira quase servil, mas eu não a possuo. Eu é que sou possuído. Sou possuído por um amor que nunca antes se tinha oferecido a mim: um amor absorvente, um amor total, amor até as unhas do pé e a sujeira debaixo delas - e no entanto minhas mãos estão sempre esvoejando, sempre procurando agarrar e segurar, aprisionando o vácuo..." (Sexus)
"A morte não tem significação. Tudo é mudança, vibração, criação e recriação. A canção do mundo, registrada em cada partícula dessa substância especiosa chamada matéria, escoa numa harmonia desigual, que se filtra através do ser angélico adormecido na concha da criatura física chamada homem. Assim que o anjo assume o domínio, o ser físico floresce. Por toda parte do reino, realiza-se uma tranquila, persistente florescência.
Por que é que os anjos, que associamos tolamente aos vastos espaços interestelares, amam tudo o que é mignon?
Mal chego aos baixios do canal, onde meu mundo em miniatura me espera, o anjo se manifesta. Já não escruto o mundo: o mundo está dentro de mim. Vejo-o tão claramente de olhos fechados quanto de olhos abertos. Encantamento, não feitiçaria. Rendição e o bem-estar que acompanha a rendição. O que foi dilapidação, queda, sordidez, transmuta-se. O olho microscópico do anjo vê as partes infinitas que compõem o todo divino, o olho telescópico do anjo nada mais vê além da totalidade, que é perfeita. Na vigília do anjo não existem apenas universos a serem observados... o volume nada significa...
... É com o olho angélico que o homem vê o mundo de sua autêntica substância..." (Plexus)
"É uma grande tentação dizer-se que o amor nunca fez de ninguém um covarde. Talvez o amor verdadeiro, não. Mas quem entre nós já experimentou o verdadeiro amor? Quem está tão apaixonado, confiante e crédulo a ponto de se vender ao Diabo a fim de não ver o ser amado torturado, morto ou desgraçado? Quem está tão seguro e poderoso a ponto de descer do trono e reinvidicar o seu amor? Claro, houve grandes figuras que aceitaram seu fado, que se puseram à parte, em silêncio e solidão, e abriram seus corações. Devem ser admiradas ou lamentadas? Até o mais perdido de amor foi incapaz de sair por aí, jubiloso, e gritar: "Tudo vai bem no mundo!"
"No amor puro (que sem dúvida não existe absolutamente, exceto em nossa imaginação)", diz alguém que admiro, "o doador não percebe que dá, nem o que dá, nem a quem dá, e, ainda menos, se isso é apreciado ou não pelo recebedor."
De todo o meu coração, eu digo "D´accord!" Mas nunca encontrei um ser capaz de expressar tal amor. Talvez apenas os que já não tem mais necessidade de amor possam aspirar semelhante papel.
Estar livre da servidão do amor, apagar-se como uma vela, derreter-se de amor, fundir-se com o amor - que felicidade! É possível a criaturas como nós, fracas, orgulhosas, vãs, possessivas, invejosas, cuimentas, obstinadas, rancorosas? Obviamente, não. Para nós, a corrida de ratos - no vácuo do espírito. Para nós a ruína, a ruína eterna. Julgando necessitarmos de amor, cessamos de dar amor, cessamos de ser amados.
Mas mesmo nós desprezivelemte fracos como somos experimentamos ocasionalmente um pouco deste amor verdadeiro, desinteressado. Quem de nós não disse a si mesmo na sua cega adoração de alguém além do seu alcance: "Que me importa que ela nunca seja minha! Só me interessa que ela exista, que eu possa venerá-la e adorá-la para sempre!" E embora insustentável essa opinião exaltada, o amante que assim argumenta pisa chão firme. Ele conheceu um momento de amor puro. Nenhum outro amor, por mais sereno e mais duradouro, se lhe pode comparar." (Nexus)
Trechos da obra de Henry Miller, escolhidos por mim, por dizerem coisas que tem grande significado ainda hoje...
"... e só nos sobrou do amor a falta que ficou..." (Anjos - Legião Urbana)
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