quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Borboletas

Hoje nasceram mais algumas borboletas. Todas as que estavam no vidro. Eu já havia visto antes, mas hoje, não sei porque, fiquei mais impressionada. Uma delas nasceu com as asas completamente atrofiadas, incapaz de voar. Fiquei imaginando o por quê, mas não encontrei qualquer explicação viável para isso. Uma das mais belas criações de Deus, que enfeita os céus por onde passa, com suas cores vibrantes, desprovida do direito de experimentar a liberdade... Suas irmãs voaram alto, rumo ao infinito e ela ficou ali, estagnada, agonizante, batendo suas asas como se, a qualquer momento, pudesse acontecer um milagre que fizesse ela alçar voo junto com as outras. Mas não, o milagre não veio, e a morte era a única coisa certa para ela... A única coisa que pude fazer foi colocá-la em um arbusto, como se estivesse, de certa forma, realizando seu último desejo: tocar o verde pelo menos uma única vez. O milagre da vida se desfez. Se desfaz sempre, mas às vezes é muito rápido. Deveria ser assim? Por quê? Não podemos mudar? Nada podemos fazer?

Mas, de repente, me lembrei da Júlia, da Kétlin, do menino novo lá da escola que, além de ser surdo, tem também as perninhas comprometidas, do Rafa, meu Deus, de tantos outros! Que também nasceram - e nascem todos os dias - desprovidos de usufruir plenamente de tantas coisas que a vida oferece. Continuo não conseguindo entender. Superação, será que é isso que eles vem nos mostrar? Será que é a força, o instinto de luta, que faz com que eles consigam ir além, mesmo com tantas limitações? É isso que temos que ver? Ainda assim, não me conformo... Queria que fosse diferente! Queria que eles pudessem ouvir, correr, pular, ver, entender as coisas como nós. Queria que os seus voos pudessem ser os mais altos; suas cores, as mais vibrantes e seus sorrisos, os mais largos...

Assim, na plena consciência dessa impossibilidade, sabendo que não há jeito de ser diferente, vamos levando nossas vidas procurando, a cada dia, mil maneiras diferentes de amenizar a dor que carregamos em nossos corações - pelas crianças e pelas borboletas.

Carina, 01/03/2007.
Durante a primavera, quando morávamos na casa velha, tínhamos uma árvore onde  muitas e muitas lagartas vinham comer de suas folhas, era uma espécie de figueira, acho eu... Eis que a magia se instalava quando elas, finalmente crescidas e fortes, estavam prontas para virarem casulos.
Eu, sempre que podia, colocava-as em vidros para que as crianças pudessem visualizar melhor o processo todo, era lindo demais ver os olhinhos curiosos se iluminando a cada nova transformação. E, quando os casulos se rompiam, nossa, era o encantamento da vida se materializando diante de nós, não tinha explicação... O melhor de tudo era poder ver eles visualizarem coisas que eu passei minha infância toda assistindo na casa da minha avó... Só faltaram os tatus-bola... Mas, enfim, este excerto que fiz serve apenas para explicar porque mencionei o vidro no texto que escrevi... Era apenas uma análise científica feita por seres pequeninos que podem vir a ser cientistas algum dia... Vai saber...
Carina, 19/01/2011.

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