quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Só por hoje

Quinta-feira a estação de trem estava escura, estranhamente escura. Poucas luzes acesas. Chuva forte. Era um cenário perfeito para os filmes de terror que tanto gosto. Os rostos das pessoas que partiam e que chegavam pareciam fantasmagóricos... A solidão de cada um evidenciou-se. Cada um a carregar, solenemente, sua pequena dose de solidão, de tristeza, de desamparo...

Minha inspiração aflorou. Incrível como escrevo o tempo todo em meus pensamentos! Mas, depois, muita coisa se perde, acabo não conseguindo transmitir para o papel tudo o que foi soprado em meus pensamentos pela inspiração.

Então, sendo assim, preencher umas poucas linhas tem sido uma constante nos últimos dias, mesmo com todo o turbilhão que se encontra dentro de mim. Me esforço ao máximo, mas resgato apenas um pouco do que me foi oferecido. O resto fica a flutuar em algum lugar aqui dentro, junto com meus anseios e sonhos.


Sempre achamos que não pode chover o tempo todo. Mas chove. Há anos chove em minha alma. Na rua, chove já há mais de uma semana. Nos acostumamos com a chuva. Não devíamos, mas nos acostumamos. Transitamos pelas ruas, fazemos coisas, acostumados também à nossas abstinência de amor. Verdade. Não amamos mais como antes. E nos acostumamos, nos adaptamos, também a essa falta de amor. Não devíamos, mas, sim, nos acostumamos também a isso.

E o mais triste, devo dizer, é que as pessoas não percebem, perderam a capacidade de ver que já não amam mais como antes. A indeferença toma conta. E, assim como nos esquecemos de carregar sombrinha para nos proteger da chuva, também nos esquecemos de nos proteger dessa superficialidade.

Vamos vivendo; vivendo por viver; vivendo porque, às vezes, morrer é muito mais difícil... Um dia após o outro. Como dependentes de uma droga qualquer, pensamos: "só por hoje!" Só por hoje, vou tolerar a intolerância. Só por hoje, vou esquecer a falsidade. Só por hoje, vou conviver com a solidão, inevitável solidão. Só por hoje, não vou lembrar que a morte talvez seja uma saída viável...

Carina, 24/02/2007


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